(texto de Elsi)
"...As poucas casas ficavam próximas da estação ferroviária. Uma delas serviu de moradia para a
família.
Mas, como era pequena, o pai teve de aumentá-la;construiu primeiro um cômodo, e como continuasse
a ser pequena para todos, anexou do outro lado um vagão de trem.
Elza sempre recordava dessa estranha casa, pelo exterior engraçado, que parecia uma ave ou avião
com uma das asas menor, pois não havia equilíbrio estético.
Trens iam e vinham todos os dias, exercendo fascínio nas crianças(Elza, Antônio(Nêne),Ida, Nair e
Idê). Do R. Grande do Sul a São Paulo, cortando quatro estados, viagens longas, exigiam carros-leitos e
restaurante. Quando paravam em R. Uruguai, as crianças ficavam encantadas com os
passageiros:mulheres de chapéu, homens de gravata, crianças com lindas roupas. Elza, logo que teve
oportunidade, entrou num vagão, e ao se ver no espelho do lavabo, pode ver como havia crescido.
Espelho grande não havia em sua casa, Era o rio, ou cacos de vidro, que lhe forneciam a imagem: uma
pré-adolescente que ainda conservava muito da criança que fora.Tão graciosa e bonita, que numa certa
vez, ao passar ali, uma família quis adotá-la-la; essa família, mais tarde se soube, era de muita
importância e com haveres. Mas ainda bem que seus pais não concordaram.
Em R. Uruguai nasceram Paulo(Lele) e Romeu.Mais tarde nasceria Raul.
Às vezes o rio crescia com as enchentes e todos ficavam preparados para abandonar a casa. As
crianças, com suas trouxas de roupa, ficavam excitadas, e até queriam que o rio transbordasse, pois
iriam no trem. Mas nunca foi necessária a debandada.
O pai, filho de agricultores, tinha com a terra uma bonita relação, e pedia auxílio dos filhos quando ia
semear.
Elza lembrava-se das muitas vezes em que ia pondo sementes na terra por ele preparada.
Com a adolescência surgiram algumas necessidades para a nossa protagonista, e para comprar meia de
seda e fivelas para o cabelo, vendia peixes, que pegava pelas guelras no "pári "que havia no rio. O Sr.
João Vieira era o cliente preferido.Ela também costumava visitar os amigos D., Bega e o marido em
Perdizes; numa das ocasiões em que lá esteve conheceu, e se apaixonou ,pelo Agente da Estação,
Euclides. Ficou impressionada com o uniforme que ele usava:de cor azul com botões dourados.Ele
também ficou impressionado com ela e a presenteou com uma caixa de pó-de-arroz "Cashmere
Bouquet" e um corte de fazenda que trouxera de Marcelino Ramos.
Quando foi transferido deixou-lhe uma carta, na qual dizia ter sido ela o seu último amor, e que talvez
tivesse sido , dela, o primeiro amor...
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