terça-feira, 9 de junho de 2009

" SETE QUEDAS, TESOURO ESQUECIDO"



"CONHEÇA PRIMEIRO O QUE É SEU,PARA DEPOIS CONHECER O QUE É DOS OUTROS"



Vamos! Venha comigo e enquanto vou contando o que vi e falando do que é nosso, feche os olhos e vá
criando em sua imaginação os cenários para esta viagem a lugar cheio de calma e silêncio, pleno de verde  - que, de repente se transforma, se agita, cortando a quietude e solidão com brados e gritos, em torrentes de espuma e sinfonia  de cores.

-No tapete mágico destas palavras, você já foi transportado, você já se encontra em frente às quedas do rio Paraná, em Guaíra, a cidade calma, pequena no tamanho mas imensa no quinhão de belezas que a natureza lhe deu.

-  Você vai  achar-se olhando, extasiado, a igreja singela, coberta de hera, que tem como herança dos tempos idos as mesmas telhas que cobriram outrora a igreja jesuíta de "Vila Real del Guairá", de terra pisada, de terra varrida pelos nossos bandeirantes.

- Hoje o telhado da igreja foi  reformado e perdeu muito do encanto do passado.
Nas ruas tão simples, de poeira vermelha, a saudação já foi feita.

-No doce farfalhar das folhas, no canto suave dos pássaros das árvores que as margeiam, você já deve ter escutado, sentido, em seu coração: -Seja bem-vindo! Conheça o que é seu!

-Vejamos o porto ,conservando ainda em sua pobreza o jeito dos que muita riqueza e muita miséria humana já viram passar.Guarda ainda para si a lembrança dos enormes carregamentos de mate, saídos da mata virgem, transportados em fardos tão grandes, tão pesados, arriados às costas do humilde cabloco que fazia imenso percurso e, às vezes, jazia para sempre debaixo da erva - tão linda, mas tão assassina.

-Olhe as casas, tão iguais, conservando ainda o que nas grandes cidades desde há muito já não mais se vê.

-Como antigamente na igreja, repare o telhado das casas, tão antigas quanto o templo, em formato de escamas, com telhas de madeira.

-Aqueles, acolá, são de estuque; mais adiante, querendo impor modernismo, aparece prédio de alvenaria em seu início, mas com ar altaneiro, espalhando superioridade.

-Pobre tolo! ele nasce hoje, não viu o que vimos, segredam as casinhas antigas.

De todos os pontos avista-se o rio Paraná- tão largo, tão escuro, correndo calmo, fingindo sossego, mas logo ali adiante...

-Os tipos estranhos que andam nas ruas, morenos, falando em grande algarávia, mistura de sons, espalham no ar a língua tupi-guarani, trazendo nos olhos o seu Paraguai. Nosso país é deles e o deles é o nosso.Um rio nos separa, ou melhor, num abraço nos une, nos liga, fazendo-nos irmãos.

 - A dominar a cidade, em toda a sua grandeza, com seus caminhos marcados por pedras pintadas de branco, suas construções amplas e modernas, e- em seu matro tremula o auriverde pendão de nossa terra,-está a Quinta Companhia de Fronteiras- onde um punhado de dignos oficiais de todas as partes do Brasil dedica-se, com amor e patriotismo, ao ensino das artes militares a duas centenas de jovens prestando o seu tempo de serviço militar. 
Podemos tomar este atalho ali adiante, e no seu início descortinamos a Vila Militar com suas casas novas e modernas, e o Clube do Centro Social da Guarnição de Guaíra.
-Bastante amplo, com aspecto exterior modesto, é muito agradável em seu interior, onde existe ótimo salão de leitura e baile, estantes para livros, revistas e coleção de ofídios da região.
 Sobressai, em uma  de suas paredes, bonita coleção de flâmulas militares a alegrar o ambiente, bem como moderno bar e cinema.

- Nesse clube tão simpático confraternizam em todas as festas, reuniões e sessões cinematográficas, não só os militares como todos os habitantes da cidade, que a ele têm livre acesso.

-Sei, nisso teríamos desilusões, o tempo tudo transforma, e variam os pensamentos das administrações.

-Sigamos adiante, nosso percurso agora, apesar de longo, é pontilhado de emoções, de êxtases!...

-É a natureza pura e simples, abrindo-nos os braços.

-Por todo o caminho há revoadas de borboletas em sinfonia policrômica, de todos os tipos.

Sobem e descem, voando, brincando, dançando "ballet".

-Imitam a cortina de cores de grande teatro, prestes a dar um magnífico espetáculo.

-Há um ruído tão grande pairando no ar, parece trovoada!...


-É o grito do indomável, é o brado de revolta do rio-menino, tão manso, tão calmo, que enjoa daquilo e pula a janela para fazer travessuras.

-Seu coração dá um salto, sua alma estremeceu e seus olhos se extasiaram.

-É  assim e sempre, com todos.

-É  uma emoção enorme  ver tanta beleza!

-Aquela cascata imensa, aquele mundo de espuma deslumbra!

-Aqueles saltos mais calmos além, as flores debruçando-se para mirarem- se às águas tranquilas, um pouco mais abaixo, são contraste enorme.
-O rio, que além é tão escuro, aqui se transforma e embranquece, e até luminoso fica!

-O "Rotary", em gesto digno  de louvor e imitação, fez coleta entre seus associados e, com auxílio do Município e da Quinta Companhia de Fronteiras,construiu nova ponte pênsil para possibilitar a aproximação ao maior dos saltos; encoberto pela montanha de pedras, do lado  esquerdo  do rio, eis o Salto Quatorze, antes só visto por excursionistas audazes e pelo ar, em avião...

-Suas barrancas graníticas quedam tais como muralhas de cidades lendárias, enfrentando a fúria ciclópica das águas.Parecem zombar das formigas humanas a passarem, receosas, pelas grandes pontes pênseis.

-A cheia costuma  cobrir os 140 metros de altura dos degraus sucessivos da queda d'água e em uma delas essa ponte quase foi levada rio abaixo. Agora , torcida e bamboleante, aguarda mais severo carinho com todo esse tesouro esquecido e desprezado pelos governos-é o eterno desleixo das administrações incompetentes, que revolta e contrista.

-Por entre a mata luxuriante divisa-se, sumindo e tornando a aparecer, semelhantes a cabeleiras encanecidas, mais para o alto e para baixo, vários dos seus 37 Saltos.

-O arco-íris permanente a valsar sobre a água que cai, que dança, é uma dádiva do sol, eterno enamorado das Sete Quedas.

-E, para quem, como você, vai de perto conhecê-las, ver sua beleza, ouvir o coração do Brasil a palpitar embaixo delas, ele também oferece um presente.


-E um arco íris miniatura que vai  com você, que enlaça suas pernas e que o acompanha em toda a
visita- "fazendo com que um amor imenso, por esta pátria formosa, irrompa de seu coração para seus olhos, em uma quase cascata de lágrimas..."



 (Esta bela página foi escrita por Lavínia Costa Straube, quando morando com Ernani em Guaíra, em 1957.)



E dizer que tamanha maravilha da natureza hoje está encoberta...

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