domingo, 7 de dezembro de 2008

Palavras de um amigo

Eis as palavras a ele dedicadas por um amigo admirador:

Dr. Brasílio

Suas palavras ainda soam pelo cosmos.
Foram duas garras, sádicas e potentes,  me atacaram-me de improviso, apossaram-se de minha alma, amassaram-na, torceram-na e, provocaram-me as lágrimas.

Ainda o vejo.
Ainda sinto vontade de correr a abraçá-lo.
Ainda o percebo, arcado sob uma vida injusta, alto e seguro,proferindo palavras rápidas e sábias.
Ainda o tenho em mente, entre aquelas paredes simétricas e mudas, entre as fileiras claras das poltronas e entre aqueles poucos homens que sentiram a profundidade de suas vinte palavras, e que, talvez, o aplaudiram apenas por formalidade.
Ainda sinto meu coração que pulsa, e o sentirei por muito tempo, pois suas palavras me disseram o que nenhum outro discurso me disse. Seus gestos, me disseram o que o senhor nunca me contou. E, sua voz, me transmitiu seus mais secretos sentimentos.
Vi-o, naquele momento, como um verdadeiro gigante.
Temi que, no entusiasmo de suas palavras, seu corpo, vivido, sofrido e abatido, se fosse desintegrar, para viajar para um outro plano, para uma outra dimensão.
Chorei calado.
Chorei em silêncio, por amor à sua simplicidade.
Senti,
Senti alegria e dor.
Depois,
Muito mais.
Vi-o, caminhar solitário pela calçada vazia.
Vi-o, deslizar cabisbaixo em direção desconhecida, e seus cabelos de prata, brilhavam na noite.
Segui-o,com os olhos cobertos de lágrimas, e, disse para meus deuses:
Lá vai ele. Um homem sábio.
Lá vai um homem solitário, que levará uma má lembrança dos homens.
Lá vai meu grande amigo.
Caminha lentamente por entre as prostitutas, e, sei que nunca as olhou com desprezo.Mistura-se com os marginais, e nunca lhes negou a palavra.
Lá vai ele.
Lentamente, só e pensativo.
Aqui vou eu,
contente por tê-lo ouvido,
amargurado por tê-lo entendido.

02 de Junho de 1973.

Ézio Flávio Bazzo.