Mais trechos de cartas, desta vez de Brasílio p. Lavínia.
..." O trisavô da Ilha da Madeira, aquele que trabalhava arduamente desde
às quatro da manhã para sustentar sua família de mulher e vinte e um
filhos, e para os quais deixara vinte e um contos "per capita;mestre a
jamais admitir seus filhos aprendessem a ler, porque desde o bisavô ninguém
sabia ler e todos morreram muito ricos. Muito menos isso se poderia dar
com as mulheres,pois seria para escrever cartas para os namorados- pelo que,
envergonhado ainda, sempre estou a ouvir a voz de minha bem amada avó
Balbina: "Como é triste não se saber ler"! para ela, que me pedia lesse
até os anúncios, e com eles, com o olhar distante de sonhadora, sempre dava
a impressão de construir mundos maravilhosos, como, das notícias ouvidas,
viajava pela terra... Ao relembrar isso com ternura e muita emoção,
sobretudo pelo embranquecer de seus cabelos em poucos dias após minha saída
de casa pela conduta implicante de minha madastra- pesa-me a consciência
de não na haver ensinado a ler...
Mas, em Santo Antonio da Platina, quando Diretor do Grupo Dr. Ubaldino do
Amaral, ensinei, em homenagem a minha avó Balbina, à Sra. Maria
Rodrigues, ex-dona do Hotel dos Viajantes, de propriedade do marido, um português de linguagem empolada e gozável.
Um dia, eu fora a Tomazina consultar a experiência do meu primo e dileto
amigo, advogado Antonio Chalbaud Biscaia, e como só poderia retornar em o
dia imediato, procurei um hotel na cidade, em um sobradode muitos degraus;
lá, quase chegando ao céu, ouvi a seguinte frase, aliás, para meu espanto:-
"Professor Brasílio, como devo tudo o que sou ao Senhor"!Por mais procurasse
a dona da voz, parecia não ser de ninguém e vir realmente do céu ,pela
aparente inexistência da autora.
Subi a escada normalmente, mas com enorme curiosidade de desvendar o
aparente mistério - ao galgar o patamar me defrontei com Dona Maria
Rodrigues, e ouvi sua singela e sincera gratidão, partida do mais fundo do
coração :-Professor, tudo que possuo hoje devo ao Senhor,que me ensinou a
ler! " Nesta ocasiaõ estava separada do português e havia refeito sua vida.
Então, ela jamais poderia pensar que, verdadeiramente agradecido estava
eu, porque evoquei a personalidade original e maravilhosa de minha avó
Balbina, natureza varonil de mulher romana das antigas, analfabeta, mas
sedenta de sabedoria.
Por isso me sinto ditoso de saber minhas filhas
professoras de valor".