segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mais trechos de cartas, desta vez de Brasílio p. Lavínia.



..." O trisavô da Ilha da Madeira, aquele que trabalhava arduamente desde

às quatro da manhã para sustentar sua família de mulher e vinte e um

filhos, e para os quais deixara vinte e um contos "per capita;mestre a

jamais admitir seus filhos aprendessem a ler, porque desde o bisavô ninguém

sabia ler e todos morreram muito ricos. Muito menos isso se poderia dar

com as mulheres,pois seria para escrever cartas para os namorados- pelo que,

envergonhado ainda, sempre estou a ouvir a voz de minha bem amada avó

Balbina: "Como é triste não se saber ler"! para ela, que me pedia lesse

até os anúncios, e com eles, com o olhar distante de sonhadora, sempre dava

a impressão de construir mundos maravilhosos, como, das notícias ouvidas,

viajava pela terra... Ao relembrar isso com ternura e muita emoção,
sobretudo pelo embranquecer de seus cabelos em poucos dias após minha saída

de casa pela conduta implicante de minha madastra- pesa-me a consciência

de não na haver ensinado a ler...
Mas, em Santo Antonio da Platina, quando Diretor do Grupo Dr. Ubaldino do

Amaral, ensinei, em homenagem a minha avó Balbina, à Sra. Maria

Rodrigues, ex-dona do Hotel dos Viajantes, de propriedade do marido, um português de linguagem empolada e gozável.



Um dia, eu fora a Tomazina consultar a experiência do meu primo e dileto

amigo, advogado Antonio Chalbaud Biscaia, e como só poderia retornar em o

dia imediato, procurei um hotel na cidade, em um sobradode muitos degraus;

lá, quase chegando ao céu, ouvi a seguinte frase, aliás, para meu espanto:-

"Professor Brasílio, como devo tudo o que sou ao Senhor"!Por mais procurasse

a dona da voz, parecia não ser de ninguém e vir realmente do céu ,pela


aparente inexistência da autora.


Subi a escada normalmente, mas com enorme curiosidade de desvendar o

aparente mistério - ao galgar o patamar me defrontei com Dona Maria


Rodrigues, e ouvi sua singela e sincera gratidão, partida do mais fundo do

coração :-Professor, tudo que possuo hoje devo ao Senhor,que me ensinou a

ler! " Nesta ocasiaõ estava separada do português e havia refeito sua vida.

Então, ela jamais poderia pensar que, verdadeiramente agradecido estava

eu, porque evoquei a personalidade original e maravilhosa de minha avó

Balbina, natureza varonil de mulher romana das antigas, analfabeta, mas

sedenta de sabedoria.

Por isso me sinto ditoso de saber minhas filhas

professoras de valor".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O dia em que o avô perdeu para os netos no jogo...

O dia em que o avô perdeu para os netos no jogo...





Brasílio sempre ganhava dos netos Guilherme e Fernando nas partidas de

xadrez.
Até certo dia,em que os dois espertinhos resolveram pregar-lhe uma peça...

Estava disputando com Fernando e, a cada jogada, lá ia Guilherme olhar

num programa próprio qual deveria ser o próximo lance, de modo a levar o

irmão à vitória. Voltava à sala e atrás do avô fazia gestos para Fer,

induzindo-o à jogada mais conveniente segundo a sugestão da "máquina

pensante". Assim foi passando o tempo, com idas e vindas do Guilherme.

Brasilio sempre foi um ótimo jogador , com sua inteligência privilegiada;

não estava acostumado a perder( ainda mais para um rapazote mal iniciado

no conhecimento das regras desse jogo), mas quando isso acontecia, emitia

um ô, ô, Ô meio espalhafatoso, num misto de admiração pelo oponente e

um pouco de aborrecimento disfarçado. E não é que neste dia tal aconteceu?

Os dois matreiros nunca lhe contaram seu estratagema, o qual foi de uma

malvadeza hilária... Perdeu para a máquina, pobre de meu pai...

(Segundo Fernando, eles contaram, sim, e tudo terminou numa boa gargalhada dos três...)


... E  quando  o avô partiu,  Guilherme  colocou uma pedra do tabuleiro  de xadrez  junto a ele...

Foi uma bela homenagem deste neto querido...