sexta-feira, 23 de julho de 2010

Querida tia Ida,

Sua partida

Abriu uma ferida,

-Bem doída-

Em nossa vida.


E em nossos corações...

"Tia Ida"

Existe agora mais uma estrela no meu céu. E brilha muito...
Em junho , tia Ida nos deixou...

Em Maio ficou alguns dias conosco, e escrevi um cartão a ela pelo dia das Mães( intuição?) Nele eu dizia:

Querida tia-mãe Ida,


mas volta, hein?

Obrigada por tudo, desde aquele longínquo e delicioso pão na chapa, ao vestido azul tão lindo que fez para mim, ao conforto nas horas tristes e à alegria nas horas felizes;à companhia nos bailes e cinemas, e ainda mais...
(Até à brabeza com que "tentava" nos educar, quando crianças...)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

...Divulgador da cultura, humanista, idealista, um homem à frente de seu tempo... Eis Brasílio de França Costa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Gosto pela Leitura

Eu tinha umas anotações de mãe sobre os livros que ganhara de presente e

adorara, mas vi nas anotações de Elsi: "Num certo dia o pai chegou em casa

trazendo para Elza um livro com capa verde-claro, cujo título, em letras

prateadas, a encantou:Pérolas Esparsas; era uma coletânea que trazia desde

receitas a contos e poemas.

Um novo mundo abriu-se para ela, e pela vida afora sempre gostou de ler."

sábado, 3 de julho de 2010

Mais um texto encontrado em uma agenda de gastos domésticos.


"...Ontem, ao dar aula, pois sou professora no Grupo Escolar Barão de
Antonina, um dos mais conceituados do Estado, fiquei comovidíssima quando
uma menina me mostrou uma caneta, toda feita de fio de seda, com as cores
de nossa querida Bandeira. Disse ela que a caneta foi feita por presos
de uma penitenciária em Mafra, estado de Santa Catarina.

Senti meus olhos encherem-se de lágrimas ao ler esta frase feita com o
próprio fio: "Seja Feliz".

Quanta coisa essa frase encerra. Quanta coisa essas palavras devem
representar para ele!

Talvez, fazendo a caneta, ele tenha voltado ao tempo de criança; se foi
feliz, sentiu saudade- saudade do tempo em que era livre.

Liberdade - sem ela, que tristeza! E quanta gente vive entre quatro
paredes, talvez injustamente, e a maior parte por ignorância, por
erro de educação...

"Seja Feliz!" Ignorante - mas com um coração nobre, trabalhando a
caneta, ele enviou uma mensagem de seus sentimentos e de seu coração à
infância de nossa querida Pátria..."

Achei este texto em uma agenda antiga,

escrito por Elza.

" ...Quando volto ao meu tempo de adolescência, é com enorme saudade e
gratidão que relembro o primeiro presente que recebi... para mim foi o
maior, o melhor, e nunca nenhum se comparou a ele; tendo passado
tempo, é como se fosse hoje que tivesse recebido.

Eram cinco livros de histórias: dois volumes de "O Velocino de Ouro, Os
Três Príncipes Coroados, Rosa Mágica e O Sargento Verde.

Vieram numa espécie de bolsa, e foram presente de um amigo de minha
família.

Como me senti feliz! E os lia ao entardecer, à beira do Rio Uruguai, do
meu grande companheiro de infância ..."

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Nestes u´ltimos dias tenho postado reminiscências apenas, mas pretendo

escrever trechos de cartas deles que dirão muito mais ... Além de serem belas

páginas de amor...

Lavínia tinha uma bela voz; quando vinha passar a tarde conosco, subia as escadas cantando ou asssobiando. Lembro-me muito bem da última vez em que isso aconteceu:junho de 2005...

...Suas mãos eram brancas e fofas, quentinhas; eu lhe dizia que pareciam
pãezinhos de minutos quentinhos,e ríamos com essa comparação; ela diversas vezes esquentou as minhas, principalmente em momentos de tristeza, como quando do enterro de pai e mãe...

Sobre Brasílio

Meu pai teve uma infância de menino "bem-nascido", com algumas regalias
por ser homem em uma família na qual os meninos haviam morrido precocemente.

Tinha uma "lanterna mágica" com filmes cuja sequências eram pintadas em
vidro(miniaturas perfeitas) vindos da França. Os mesmos apresentavam vários
temas, como a história da França ,costumes e lendas.Existem alguns até hoje e nos encantam pelos detalhes e perfeição.Peças para museus, difíceis de encontrar em nossos dias.
Um episódio que ele contava era sobre o Cometa Halley, que viu criança, e
o encantou.
Dizia que parecia um pavão imponente, abrindo as asas, o que lhe foi motivo de deslumbramento ...
Na passagem mais recente do Cometa, sua expectativa foi frustrada; fomos vê-la na praia, eu, ele e Lavínia. Mas foi uma decepção para nós três. Não vimos nada...

Outras lembranças de Elza.

.... Morávamos perto da linha do trem.


Fiquei com sarampo, e na época era costume que a pessoa com tal doença
ficasse num quarto escuro; foi o que aconteceu comigo.Mas quando havia sol,
uma réstea dele, no teto, mostrava-me as sombras dos que passavam lá fora-
pessoas, cachorros, trens...
Eu tinha uma moeda grande e pedi para meu irmão Nêne ir comprar: bananas!
As quais comi com grande prazer, sem me importar se fariam bem ou não,
naquela situação.

Outra vez, uma menina vizinha pediu que mamãe me deixasse ir com ela à
matinê; então fomos, e como acabou muito tarde o filme(do qual até hoje
lembro o nome:"O Homem de Aço") voltava , distraída,e quando cheguei vi
minha avó rezando, minha mãe também; meu pai deu-me um tapa tão forte, que
caí sentada. Estavam preocupados com minha demora.
...Também não me lembro que ele tivesse batido em mim, a não ser naquela
ocasião.

Era um homem de bom coração e com muito senso de humor.
Quando eu corria atrás dos passarinhos, querendo alcançar um deles , me
dizia: sua boba, você precisa, para pegar um deles, colocar uma pedrinha de
sal em seu rabinho... eu pensava, mas como vou conseguir pôr essa pedrinha
no rabo do bichinho?...

... Para finalizar minha vida nessa cidade, meu pai chegou num certo dia
dizendo para para nós que havia sido removido para Rio Uruguai, na divisa
com o Rio Grande do Sul, sendo esta a última estação de Santa Catarina.
Minha mãe não gostou nada dessa história, e disse que não ia morar em mato
nenhum. Ele retrucou: -Sua boba, lá tem até avião...E assim, a mesma aceitou..."
Mais tarde tentarei contar o encantamento desse lugar nas lembranças de
Elza, o nunca esquecido rio de sua infância e início da adolescência...

Continuação das lembranças de Elza

... Kaiser.

Eu sempre ia à escola acompanhada por uma amiga chamada Ondina.
Uma vez, porém, estava voltando sozinha, e um cachorro avançou, grudando com
seus dentes na barra de minha saia pregueada de estudante.Por mais que
gritasse, o cachorro não desgrudava. Fiquei apavorada; desde aquela ocasião
passei a ter muito medo desses animais.
Um senhor que estava num bar veio em meu auxílio e livrou-me do cão.

Recordo que ia na cerca e olhava as casas vizinhas, as quais estavam
todas fechadas. Perguntando para minha mãe o porquê daquilo, ela
explicou que era por causa da gripe espanhola, que estava matando muitas
pesssoas.

Mas em nossa casa não houve esse problema, porque meu pai pegou um barril
com água e pôs quina branca, fazendo com que nós só tomássemos aquela água.

Meu pai era um homem alto, grandão e muito ereto, bonito mesmo, e de
presença marcante, espirituoso. Amoroso, me chamava de "Pimpa".
Quando fomos morar num lugar do interior, ele deveria consertar muitas
máquinas velhas,pois entendia de mecânica; também sabia fazer móveis e
casas, era bastante habilidoso.
Já minha mãe era miudinha, simples e ingênua, e muito apegada à família.

... Tive um sonho, certa vez, no qual ia indo para o Colégio com minha
amiga.
A rua tinha uma descida com um riacho ao lado, e suas margens eram de
areia. De repente, minha amiga desapareceu, ficou um pouco escuro...
Vindo do rio, um Anjo, do tamanho de um homem, com roupa azul e branca(não
lembro se tinha asas). Pegou minha mão e levou-me até um lugar de areia,
dando-me uma espumadeira da ágata azul e branca e riscou uma roda no chão,
mandando que eu cavasse, sumindo em seguida.Após cavoucar um pouco,
apareceu a alça de uma panela; tirei mais um pouco de areia e surgiu uma
panela bem grande também azul e branca, cheia de moedas grandes, cor de
ouro.

... Tirei, no sonho, a panela, e pus no braço, voltando para casa; porém
mesma estava tão pesada que resolvi parar e colocá-la no chão.
Nesse instante acordei.
Noutro dia contei o sonho para meus pais, e meu pai disse para irmos à noite
no local do sonho para cavoucarmos e talvez achar as moedas; mas minha mãe
meteu-me medo, dizendo que no momento em que fôssemos, todo mundo dizia,
haveria uma forte ventania e apareceria o demônio. Diante disso, me
apavorei e não quis mais ir...


...Fiz a primeira comunhão no Colégio das freiras onde estudava. Ganhei a
fazenda para o vestido, de minha madrinha;era de algodão com florzinhas de
seda. Minha mãe disse que ia mandar fazer o vestido de gandola- uma saia e
um blusão abaixo da cintura, havendo casas nas quais passavam fitinhas
que davam laços nos lados.
Papai comprou-me um sapato de verniz preto, raso, com uma pedrinha brilhante
na gáspea, para o qual eu ficava olhando, embevecida,tão lindo o achava.
O véu e a grinalda as freiras emprestaram, e essa parte foi arrumada no
Colégio.
Minha mãe me falou que eu ia receber a hóstia, que não podia engolir nem
mastigar.Mas a hóstia grudou no céu da boca, e na hora da mesa do café,
ainda estava lá; eu, com grande medo de pecar, engolindo a mesma.

... Outro fato que recordo desta fase em Ponta Grossa foi aquele dos
gafanhotos. Meu pai chegou em casa e nos mandou bater tampas de panelas e
latas no quintal e na horta, para espantar os gafanhotos, que estavam vindo
em bando.
Quando nós, crianças ,os vimos, corremos assustadas para dentro de casa. Éramos quatro:eu, Nêne, Ida e Nair.
Os bichos comeram todas as verduras; também, pudera, eram como uma nuvem
espessa...