domingo, 20 de janeiro de 2013

Continuação do último texto...


Tios...



Também recordo de uma imagem de Nossa Senhora , em frente à qual havia uma lamparina sempre acesa, depois que meu primo Odahyr tinha ido para a Itália como pracinha, e diante da qual todas rezávamos.  O primo voltou ,são e salvo ...

TIOS...

Dedico este   texto à prima Maria Cecília, neta de Argentina e Isaías que, sem  o saber , me incentivou , com seu interesse e entusiasmo, a continuar escrevendo  este blog.
             

                                                   "Mais  Estrelas"

                                                    Tios...


Quando eu tinha de  cinco para seis anos, passei um tempo na casa deles, enquanto minha mãe fazia companhia à prima Isail, no Hospital, após o nascimento de Liasi.


E lembro:  tia Argentina, sentada na cama, rezando e interrompendo  as orações  para dar instruções ao tio Isaías, que preparava a  " sopinha de café com pão" para nós, as três sobrinhas(que não eram do "Capitão", pois muito comportadas e obedientes- naquele tempo  as crianças eram assim....)
Ela  (minha tia)fazia um gostoso almoço, e Lavínia, com quase dez anos, o levava para as duas na Maternidade, pois Isail só queria a comida de sua mãe. ....Bons tempos aqueles, em que uma menina podia andar  sozinha e despreocupada pelas ruas da pacata cidade....

Também  lembro de um tempo anterior(devia ter uns dois ou três anos) em que, vacinada contra ( o quê, mesmo? varicela...), e a mesma tendo pegado muito bem, doía e me fazia pedir para a tia assoprar no local; ela assoprava e ria, porque eu dizia, insistindo: "afosse, titia!, não querendo que parasse  nem um minuto.

Estes tios queridos, ela ,que sempre fora a irmã-amiga de meu pai, foram marcantes em minha infância, e até hoje são lembrados com  o maior carinho...

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Coincidências... e uma história de amor...

Estou lendo a"História de Rio Negro"de Raul de Almeida.
Ernani Straube, meu cunhado e primo, no prefácio ao livro de Ayrton Celestino, "Rio  Negro, sua Gente, seus Prefeitos", assim dizia: "Falar ou escrever sobre Rio Negro constitui sempre feliz oportunidade para relembrar a década de cinquenta, quando cheguei à cidade para iniciar a vida profissional, passar dias felizes, noivar, e casar na Igreja Matriz.
Lembrar é trazer para o presente as alegrias do passado.
É recordar a presença de meus ancestrais, o bisavô Militão da Costa que, designado  para o Registro de Rio Negro e outras funções, em 15 de novembro de 1870, como Camarista(Vereador), assinou a ata de elevação de Rio Negro à condição de vila, a sua emancipação política e administrativa.
É imaginar meu avô, Brasílio Ovídio da Costa, seu filho, passando a infância nessa cidade, correndo pelas ruas sem calçamento, no Campo do Gado, no Potreiro, admirando as corredeiras do rio Negro, vendo o embarque e desembarque de mercadorias nos barcos de roda, acompanhado dos irmãos e da
tia, professora na  Escola de sua outra tia Anna Josefa da Costa que, casada com o Coronel Joaquim Teixeira Sabóia, veio a falecer de parto...."

Pois, no livro que estou lendo, vejo citados meus parentes por parte de pai, os Faria.
...Segundo é  do nosso conhecimento,os demais jornais editados em Rio Negro foram, em todo o tempo,os seguintes: "O Rionegrense" (primeiro deles) aparecido em 6 de novembro de 1898, sob a responsabilidade de Maximiano Faria; "O Rio Negro", surgido em 1907, sob a orientação de Maximiano Faria Júnior e Roberto Faria...
....Roberto Faria foi o intelectual  que  pontificou na vida literária rionegrense na primeira década deste século. Filho de José Maximiano de Faria, herdou deste o gosto pelas letras, pelo jornalismo . Redatou e dirigiu o jornal "O Rio  Negro" em 1907, com seu irmão Maximiano Faria Júnior.
Sua irmã Elvira, também intelectual, consorciou-se com o mestre paranaense (e historiador) Sebastião Paraná, que tão gratas lembranças deixou no seio do magistério do Estado.
 Como pálida amostra dos méritos literários de Roberto Faria, basta-nos transcrever  o que está esculpido em seu túmulo, no cemitério de Rio Negro, para perpetuar a sua memória:

                                "Só quem conhece a selva ao cair da tarde,
                                  avalia a sua tristura.
                                  O sol, o velhinho caduco da pitoresca lenda
                                  slava, fatigado da longa viagem, recolhia-se
                                  ao seu trono, para no dia seguinte sair
                                  novamente, rejuvenescido, e loiro
                                  e belo, e jovial..."



...Minha mãe, Elza Gabardo Costa, sempre que íamos ao cemitério de Rio Negro, queria passar por este túmulo, para lermos e relermos a poesia, que ela achava linda  e emocionante...

Meu pai, (que foi aluno de Sebastião Paraná...) em uma de suas cartas, contava-nos  a história de amor de Elvira e Sebastião:

Dizia ele que Elvira viera morar na casa de meu avô Brasílio Ovídio da Costa, para poder cursar o 
Magistério; esta casa, na r. André de Barros, vizinhava com a de Sebastião Paraná.
Primeiro foram os olhares,e daí ao namoro e união...

 Mas a doença da época, muito comum nos poetas e românticos....

dizimou, infelizmente, toda a família dos Faria... inclusive Elvira, que pouco viveu o seu sonho de amor...


( Soubemos também que , por muito tempo, ninguém quis alugar ou comprar a casa dos desditosos irmãos, casa que ficava bem próxima da que nós moramos posteriormente, na r. Coronel Joaquim Sabóia- aquele que casou-se  com a tia de meu avô....)


Então: não são muitas as coincidências?

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pai e Lavínia

Os pais de minhas amigas eram autoritários e machistas, enquanto o meu era liberal e adiantado para a época; deu-nos a maioridade  civil antes que fizéssemos 21anos,quando comprou um terreno em nossos nomes.

Por ter tido paralisia infantil, que  lhe prejudicou o desenvolvimento e a força do braço e perna do lado direito, fez exercícios, nadou e até andou de bicicleta(após inúmeras quedas).

Lembro-me dele aprendendo a andar com ela em frente de nossa  casa,e provocando   risos em uma vizinha ao vê-lo cair muitas vezes, mas não desistir...

Depois, ia de bicicleta até às cidades que ficavam   perto de Mandaguari, onde morava(e eram muitas, pois  bastante próximas...)

Com tudo isso, desenvolveu muita força  no  braço e perna do lado esquerdo, tendo mesmo nestes uma força além do normal.

Também me recordo dele e de Lavínia(com 18 anos, mais ou menos- e ela era bastante forte), os dois "lutando" jiu-jitsi pelos cômodos da casa, e o barulho que faziam ao caírem sobre a madeira do assoalho; mamãe não gostava de tantas quedas sacudindo a casa, mas os dois se divertiam muito!...

Quanta saudade  daqueles bons tempos...

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Na próxima semana...

Pretendo reiniciar a escrita deste blog, logo, logo.... Até lá," invisíveis" leitores...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Mais trechos significativos de carta de Brasílio para Elza...


      Londrina, 10 de setembro de  1965.

             
                               Caríssima Elza

Recebi, com muita alegria, sua amável carta  e  as carinhosas de Elsi e Cristina.

Em virtude de imensas tarefas profissionais aliadas a outras culturais, além da campanha de reflorestamento, serei muito breve em a resposta  à carta de você, pois já é quase meia-noite, e pretendo responder às  de nossas filhas, como escrever uma rápida carta  para Isabela.

Exatamente em o dia mais feliz de minha vida há 31 anos, de oito para nove, estive com dores irritantes em o fígado, cabeça e nevrálgica em o lado direito do rosto...

Deitava, levantava, andava, sentava, das 2 às 6:30 da manhã; até me lembrei de seus achaques e processo de reagir à dor, como também fiz uma comparação do dia de nosso casamento e o desse de setembro.

Tudo passa nesta vida!... mas os netos compensam todos os naturais aborrecimentos e a solidão imposta
pelo dever. 

Em oito de setembro de 1934, com todo o meu ser a cantar a marcha do amor, jamais houve dia mais brilhante e excepcional para mim, a natureza me sorria, pareceu-me dourado dia vindo especialmente para mim, para nós, do rico reino da felicidade. Nem me lembrei mais do chuvisco e das ruas cheias de poças de água e lama, com a música dos sapos ,o céu escuro, para mim ele nunca pareceu mais estrelado, como se à esfera  celeste se comemorasse o nosso casamento.


Agora sei que as estrelas só estavam dentro do meu coração.

Lembrei-me do aniversário de Isabela, antes da data, depois são tantas as tarefas  a mim impostas pelo mundo, principalmente o mundo dos humildes de nossa  pátria, nunca tão desventurada; chego a ficar com tédio de tanto trabalhar e com tão pouco resultado pela minha longa tarefa de gratidão a todas as pessoas excelentes encontradas nesta curta jornada, e, dentre todas, você ocupa o primeiro lugar dentro de meu já tão cansado coração; assim mesmo sempre valente a serviço das nobres causas humanas.

Com a carta de Isabela, irá, em seu nome, um cheque para um presente para nossa neta querida.

Exato, nossos netos são um encanto, mas mesmo mais do que a infância de nossas filhas, quando vivíamos maravilhados da vida, isso certamente é o valor biológico do célebre pensamento:"SER AVÔ ou melhor ainda, SEREM AVÓS É SEREM PAIS DUAS VEZES".

Por isso sofro a solidão, porque quero cooperar para a felicidade de minha mulher, de nossas filhas e, sobretudo dos nossos netos.

Bem que gostaria de nesses instantes revê-los, porque sinto saudade de todos, sendo meu coração e pensamento e a saudade deles é maior e maior a do caçula, a quem pouco cheguei a ver.
































segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Coisas que acontecem  em cidades pequenas...


Sobre Elza-  Tinha medo de cachorros, mas teve de enfrentar um touro...



Lá pelo final dos anos 40, ou começo de 50.... Mãe ia indo , tranqüila, para o Grupo Escolar onde  lecionava, em Rio Negro, por uma ruela que dava para uma  pequena ponte, quase na curva com a rua com "cara" de rua...

Eis que escutou um grito vindo de trás- Cuidado, moça, olha o touro!....

Era um laçador em seu cavalo, tentando pegar o "chifrudo".
Ela só teve tempo de olhar para trás, e diante do fato, esquivar-se.

Havia umas gramas numa encosta que dava para a cerca,nos limites de uma propriedade...


Elza tentou subir pela relva, enquanto o touro, parado no meio da rua, fumegava e tentava voltar;enquanto isso, o laçador   o impedia, dizendo: -   fuja, moça, fuja...


Os arbustos arrebentavam em suas mãos mas, no desespero, conseguiu   chegar até à cerca no alto do morrinho. Quis ultrapassá-la para o terreno da casa, e ... o que a esperava?...
Os cães  da dona casa, uma Senhora nossa conhecida, Dona Djanira . Que, felizmente, atendeu com rapidez ao seu pedido de ajuda; abrigou-a e  lhe deu água com açúcar para  acalmá-la.
Elza voltou para casa, onde, assustadas, ficamos sabendo do ocorrido.

A captura do  bicho deu-se após um tempo   ( ele  fugira de um vagão da  locomotiva que estava indo para o R. Grande do Sul - havendo assustado muitos nas ruas da pacata cidade, e foi notícia por um bom tempo).
 O ocorrido ficou em nossa memória para sempre...

(Mãe, minha querida heroína de histórias em quadrinhos!...)

                                                                             

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Margareth R.B. Bernardon escreveu sobre o Décio, nosso  médico e  amigo:


    DÉCIO ANDRADE PACHECO


    Um vazio
    No corredor
    Na sala
    Nos corações
    Nas vidas
    Dos pacientes
    Dos amigos
    Da família...

    Uma presença
    Indelével
    Inconfundível
    Irrequieta
    Crítica
    Solitária
    Falante...

    Um amante
    Da Medicina e do estudo
    Da pesquisa e da descoberta
    De soluções para os pacientes.
    Um amante
    Da música e dos concertos
    Da música clássica e de boa qualidade
    Do acordeon
    A que ia dedicar-se
    Quando  se aposentasse...

    Uma ausência
    No tempo e no espaço
    De olhar humanitário
    E da visão de mundo
    De fala compreensiva
    E da voz rouca
    Dos passinhos acelerados
    Das mãos inquietas e prestativas
    Do abraço afetuoso
    E do humor bem português
   
    Essencialmente um amigo
    De quem sentimos falta
    De quem sentimos saudade
    De quem lembramos com carinho
    E que está bem acomodado
    No lado esquerdo do peito

    Nós amigos
    Te beijamos
    Te abraçamos
    E te deixamos ir...

   Que Deus o abençôe
   Hoje e Sempre...          


   Curitiba, Julho de 2011.

   (E ela disse tudo o que eu gostaria de ...)




       

 E mais trechos de cartas de mãe...


...As meninas estão alvoroçadas com o Natal e o presentes.  Com a leitura da carta, na qual v. diz que elas devem planejar os presentes e pedir dinheiro, v. só vai ver; elas vão dar uma grande facada. Eu disse à Lavínia: isto é mto. dinheiro, e ela: a Sra. não dê palpite, o papai tendo, ele dá.
Fui comprar, ontem, sapato, sandália e vestido p. Maria Cristina. Como ela está toda feliz! A todos que chegam aqui ela  corre mostrar; tbém, há um ano que ela ganhou sapato; tbém tive de comprar uma sandália p. Elsi.Estou fazendo os vestidos delas.

...Aqui está uma seca terrível, os poços estão secando.

...Lavínia está fazendo provas, vai mto. bem. M.C. já fez, e é quase certo distinção; as examinadoras me disseram que ela ganhou tudo 10- 96.Elsi está preparando os papéis p. o exame de admissão. Amanhã vai tirar retrato, lá se vão 20 crzs.
Dizem que nosso pagamento vai sair no começo de dezembro, Deus permita. Quero comprar um bom presente p. você, pelo Natal.
Elsi está estudando p. os exames, está tão contente!
Fechamos de manhã a casa, às 10 horas ela volta; é uma apuração danada.

(E, no verso desta carta)

Bom Dia! Está quase na hora de ir à aula. Dormiu bem?
Aqui passamos sem novidade. Não compre mais sedas p. mim; não gosto. Controle o dinheiro.
Precisamos afundar o poço, que está fazendo enorme falta.
(Tínhamos de pegar água no poço do vizinho, bem mais distante.)

Acho que ainda em janeiro não poderemos ir p. aí. É preciso muito dinheiro.
Ida virá morar aqui e não pode arrumar o poço. Ela cuidará bem da casa.

Muitos beijos, da Gringa.

(Naqueles tempos, as professoras recebiam  seus vencimentos com muito  meses de atraso e, geralmente referentes a um só mês...)

Mais trechos de cartas de Elza...

...Chegamos ao Grupo,  ela (Lavínia), foi perguntar à Diretora, e a mesma achou que era o mesmo nome que eu dissera, mas L. teimou , até que a professora  falou: vou ver no livro de Geografia, quem está com a razão. Daí a pouco, ela chegou na sala onde eu estava trabalhando, e disse: Elza, sua filha está com a razão. Ela tbém havia errado, e não negou.

Me vejo em Lavínia, com a boa vontade de fazer as coisas e dar idéias.

O vestido dela (L), está ficando tão bonito, o que dei  no aniversário; inventei um modelo e está lindinho.Já comprei um sapato  para Elsi. Tive de comprar um bilhete de rifa , de   5 crz., de D. Heredia, não dá p. negar, ela é tão boa!...

...Será que vou poder fazer mais empréstimo na Caixa? Como preciso fazer estas cercas.



(Respeitei a pontuação de Elza).

"Quero recuperar o tempo perdido(mais de dois meses- por motivos vários), e agora só o que tenho vontade é de escrever aqui...          
Pai, em  crise nervosa, queimou  quase todas as cartas daquela época, exceto as de 48-49,  aproximadamente;  por um lado é bom que assim seja, pois  senão minhas  postagens teriam de ser  intermináveis...."

E ainda tenho tanto a escrever...
Vou começar a  pôr, em cada início, frases sobre o "Livro",  coletadas por ele.

E trechos de cartas de Elza para Brasílio,  lá por agosto de 1949...


...Recebi os 500 que v. mandou em agosto.Estou esperando outro 500, assim me auxilia bastante, pois vou ficar sem nada.Foram tantos gastos, tantos extraordinários; e estou pagando a prestação do Zornig, só devo 50,00 do meu vestido de lã.Lavínia, só em papel, laço p. o uniforme e saia, foram 30,00. Por isso, v. me mandando 500,00, já serve tbém p. o fim do mês.. Tenho economizado o que posso. 
Um dia desses fui plantar umasflores, e no lugar onde era o forno, bati com a enxada num tijolo, cavouquei e tirei um inteiro, cavouquei e tirei outro; lembrei-me que podia ser o alicerce do forno; de cada buraco tirei 8 tijolos inteiros; fiquei tão contente, como se tivesse achado um tesouro! Eu e M. Cristina vamos fazer um caminho até o portão.
O quintal está bonito, o repolho está fechando, a couve- flor bonita,a fava com flores, a batata bem grande, bastante beterraba. Eu gosto de lidar na terra; e, sabe, Polaco, hoje não estou inspirada p. escrever, ando mto. cansada. E estou com saudades de você.
Amanhã tenho de ir cedo ao Grupo. Penso que hoje há carta de você; O carteiro trará amanhã à tarde. 

E você, como tem passado? Com muitas saudades  de sua Gringa?É bom nem falar em
 saudades... Até quando irá isso?Felizmente  somos  de  fibra e sabemos lutar; um dia há de melhorar, se Deus quiser.

Por hoje é só. Muitos beijos e abraços saudosos,

da Elza.


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Trechos significativos de cartas de pai...

Mandaguari,18 de fevereiro de 1957.



Minha querida caçula do coração da gente.

Desejo sua saúde, a de sua mãe e de Elsi. Vou regularmente.


... O dia de hoje  já me deu 700,00 , com os quais poderei  pagar as últimas pequenas dívidas, e assim, sem dívidas ínfimas, pensar em o pagamento das maiores e das de Curitiba, empréstimos feitos quando ali estive em o ano passado.
Acredito que nesse ano pagarei tudo aquilo que ainda devo e espero atender os primeiros pagamentos
de construçaõ de casa da capital.
Tenho a impressão de que irei ganhar somas apreciáveis, como mudança de conduta, depois do caso  X.
Estou sendo muito prático e dando solução pragmatistaaos meus trabalhos. Conto que haverá de entrar algum dinheiro, a fim de começar a realizar todos os meus sonhos de segurança  e prosperida para vocês, antes de partir para Brasília.Vejamos se v. poderá tbém ter sua mensalidade e se ainda fará excursões, se possível para Guaíra.Seria interessante se combinasse uma excursão ao Rio, com seus colegas, pelo término do curso. Sei que haveria de muito gostar, e bem merece, como todas as suas irmãs.Sem se queixar da sorte, realmente, v. tem sido a filha sempre prejudicada  e aquela que nunca tem dinheiro.(- Se ele soubesse como estou rica, hoje,ah, ah, ah...) . Conto que isso terá de mudar e, como ando muito econômico, confio que v. irá ter suas mensalidades constantes de pelo mínimo, $200,00. Pouco terá de ser, porque há  muita conta atrasada, inclusive dos dois seguros meus em a Associação dos Servidores Públicos, de um terreno em Guaratuba, onde, desde já planejo fazer uma casa de  praia, p. atender à saúde de sua mãe e de vocês.
Quantas vezes já  v.tem  ficado sozinha com sua mãezinha carinhosa?
Quantas mesmo, ambas têm sido  sacrificadas quando chegam as férias; exceto qdo. vieram me visitar, e quase pensei ser um sonho, pque., além de gostar imensamente de todas as minhas filhas, o meu amor por sua mãe foi mto. além dos amores comuns...

(-Meu pai, sempre" sonhador", e querendo tudo p. sua família... Lembra-me a personagem de um livro e novela"O feijão e o sonho", em que o casal era: o marido sonhador e a mulher realista...)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

  Meu céu está escuro.


Porque todas as estrelas se esconderam para chorar...

Partiu nosso especial amigo, Décio.

Aquele que foi  médico e irmão, sempre...

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Ainda sobre Lavínia...

Ainda sobre Lavínia...

Ela fez Contabilidade, e na  Faculdade cursou Ciências Sociais.
Dava aulas de várias matérias, inclusive de Técnicas Comerciais.

E nisso se sobrepujava; os alunos,  sob sua orientação, criavam "lojinhas" e as instalavam no pátio da Escola, nas quais vendiam  vários produtos, conforme a  imaginação de cada turma.

Ela participava de tudo, sem tirar a liberdade dos alunos; que ficavam no maior entusiasmo, como a professora.

Só se falava nisso, enquanto duravam as vendas e compras.

Depois deveriam escriturar tudo, como bons contabilistas. Praticavam, assim, relações humanas, sociabilidade, matemática, técnicas de venda e contábeis; além  de serem estimulados em sua criatividade ,ao   imaginarem os produtos para venda.

   Lavínia dava as notas de acordo com o esforço de cada grupo.


Também foi merendeira, e, "mulher de  mil instrumentos",planejava, contabilizava, previa, armazenava... ia para a cozinha também, junto com as outras funcionárias.
E ,pronto!... Estava concretizado o almoço das crianças e jovens, sempre o mais delicioso possível.

A tudo o que fazia dedicava-se plenamente e com o maior entusiasmo...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Lavínia...

 LAVÍNIA

Lavínia era como um Sol, aquecendo e iluminando a todos  em   seu redor. E que  eram muitos...
Reunia a família , nós todos, nas festas de fim de ano e outras, com um entusiasmo perene.
Incansável (mesmo cansada), fazia  aqueles almoços saborosos...Comprava presentes para "um milhão" de pessoas,   pondo-os  junto da árvore de Natal.

Ela, Ernani e os filhos, Tia Miryam, Os Gabardo Costa, os  Arns da Cunha, Ady e Guido, Guido Armando.
Mais tarde, noras , genro e netos...

Nessas reuniões comemorativas, muitos risos, ping-pongs de frases espirituosas(entre ela , os filhos e o genro,principalmente). Os  cinco, um pior que o outro...Cada um queria ficar com a  última palavra, era uma disputa só...um  "non-sense" de puro  encantamento...



Há uns dias, recebi  de minha sobrinha  duas  gravações(   reunidas por Guilherme)  de Lavínia, via e-mail: numa falando e noutra cantando; Como a Isa, repeti várias vezes, não queria que acabasse...

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Encontro com Brasílio...

"...E foi como professora que conheceu aquele que seria seu marido, Brasílio  de França Costa; o mesmo fora designado para a direção da escola em que trabalhava.

Recordava-se do primeiro dia de setembro, bastante frio, próprio de inverno.

Ao chegar no Grupo, ouvira vozes vindas do gabinete  da Direção. Pensou: "Quem será esse papudo

que  tanto fala"?

Quando entrou no gabinete, ao vê-la, o "papudo" comentou"- Pelo que vejo, o corpo docente dessa

escola é muito bonito! Ao  que Elza retrucou:-O  Sr. não está enxergando bem, pois o tempo está brusco e escuro... Um tanto insolente, mas que talvez tenha cativado ainda mais aquele que viria a ter um grande espaço em sua vida...



Casaram-se em Rio Negro, em oito de setembro  de 1934, no civil. Brasílio Ovídio da Costa e

Nercíndia Bittencourt da Costa(pai e madastra do noivo), e Nair e João Guimarães(irmã e cunhado da

 noiva) foram os padrinhos.

Já na Estação para embarcarem, o pai de Brasílio  chamava a atenção do  filho por ele estar beijando demais a  esposa. Um escândalo para a época...



Iniciaram sua vida de casados em União da Vitória, mas passados dois anos estavam residindo em

Siqueira Campos.

Continuação das lembranças de Elza, em texto de Elsi.

"... Um dia receberam a visita do tio Paolo que, como irmão mais velho de seu pai, tinha grande

autoridade na família.

"Dona" Rosinha pediu a colaboração da filha mais velha para o preparo do macarrão. Elza, apesar dos

quatorze anos, pouco entendia de cozinha; lavou o macarrão antes de cozinhá-lo, o que resultou num

grande "pito" de sua mãe; o tio presenciou a cena, e falou: - Elza vai comigo para União da Vitória. Já

é uma moça e precisa aprender a fazer crochê, tricô e bordado. Ninguém contestou.

Outra etapa começava para ela...

Com o tecido que ganhara do "namorado"( Há uma foto da adolescente ao lado de seus amigos e de Euclides- mais tarde vou postá-.la)

Ao chegar na casa dos tios, ficou deslumbrada com as cortinas da casa e com o dossel da cama do

casal.

Tudo era novo para ela, acostumada com a simplicidade da casa em que morava com seus pais e

irmãos; casa igualmente bem diferente daquela de barro que vira o Sr. Ramón construir em Rio

Uruguai, e que na ocasião lhe parecera tão interessante e singela.

Deu-se muito bem com a prima Julieta, e com as primas e primos ia dançar nos Clubes Apolo(no

Paraná), e Sete de Setembro( em  Porto União, Santa Catarina).

Elza já havia iniciado o aprendizado da dança em Rio Uruguai, pois a mãe  gostava de ir com os filhos

em bailinhos que aconteciam em casas de amigos, nas redondezas. E o pai lhe ensinara os primeiros

passos dos ritmos da época.


Aos quinze anos, era uma adolescente bonita e, naturalmente, o atraiu a atenção dos moços. Um deles,

O.U., quis namorá-la e pareceu, para o tio, um bom partido.Tanto, que acabou ficando noiva, contra

 sua vontade.

Não gostava do rapaz, e era uma menina, sem grandes compromissos com a vida. Quando foi o

noivado, sua tia punha-lhe um laço de fita nos cabelos, ela o tirava; isto muitas vezes, até a tia dizer que ia chamar o patriarca.

Quando O. quis beijá-la, não só recusou, como reagiu empurrando- com força; uma coroa da boca do jovem se soltou, saindo sangue.

Por sorte, o tio achou que ela tinha razão. E o noivado se desfez...

Para humilhação do pretendente, saiu no jornal da terra: "Elza é boa de boxe..."


Julieta casou-se com Antonio Callado, um jornalista de Florianópolis, e quis que a prima  fosse junto

 em sua viagem de lua-de-mel para essa cidade, após o casamento!

Todos enjoaram no vapor, menos Elza. Um rapaz que também viajava, disse-lhe: -A Srta. vai afundar o navio...

 Pois, nessa fase, ela era  rechonchuda...

Ficaram na casa da mãe de Callado, e ao verem inúmeros pássaros num viveiro, Elza, que não

suportava vê-los aprisionados, disse para a prima que os soltassem; e assim fizeram...

Então, adeus, adeus ,passarinhos...

 Elvira, a prima mais velha, falou para Elza sobre a possibilidade de um emprego como professora, e se

prontificou a acompanhá-la à Escola.

Elza sempre se referiu à Elvira, e à Júlia Catapreta, como as duas pessoas que a encaminharam para a

profissão.

Em 1929, com 20  anos, iniciou sua vida profissional no Grupo Escolar Prof. Serapião, lembrando-se

com carinho da Diretora, Amazília, e das muitas amigas que fizera lá, entre as quais Hilda, Maria José

Franque(Zeca), Cotinha.

Não  fizera curso específico, mas desde logo demonstrou  vocação para o magistério.Adorava

alfabetizar  e lecionar para os pequenos do Jardim da Infância...



..

Continuação sobre a infância e adolescência de Elza...


(texto de Elsi)

"...As poucas casas ficavam próximas da estação ferroviária. Uma delas serviu de moradia para a

família.

Mas, como era pequena, o pai teve de aumentá-la;construiu primeiro um cômodo, e como continuasse

a ser pequena  para todos, anexou do outro lado um vagão de trem.

Elza sempre recordava dessa estranha casa, pelo exterior engraçado, que parecia uma ave ou avião

com uma das asas  menor, pois não havia equilíbrio estético.

Trens iam e vinham todos os dias, exercendo fascínio nas crianças(Elza, Antônio(Nêne),Ida, Nair e

Idê). Do R. Grande do Sul a São Paulo, cortando quatro estados, viagens longas, exigiam carros-leitos e

restaurante. Quando paravam em  R. Uruguai, as crianças ficavam encantadas com os

passageiros:mulheres de chapéu, homens de gravata, crianças com lindas roupas. Elza, logo que teve

oportunidade, entrou num vagão, e ao se ver no espelho do lavabo, pode ver como havia crescido.

 Espelho grande não havia em sua casa, Era o rio, ou cacos de vidro, que lhe forneciam a imagem: uma

pré-adolescente que ainda conservava muito da criança que fora.Tão graciosa e bonita, que numa certa

vez, ao passar ali, uma família quis adotá-la-la; essa família, mais tarde se soube, era de muita

importância e com haveres. Mas  ainda bem que seus pais não concordaram.

Em R. Uruguai nasceram Paulo(Lele) e Romeu.Mais tarde nasceria Raul.


Às vezes o rio crescia com as enchentes e todos ficavam preparados para abandonar a casa. As

 crianças, com suas trouxas de roupa, ficavam excitadas, e até queriam que o rio  transbordasse, pois

iriam  no trem. Mas nunca foi necessária a debandada.

O pai, filho de agricultores, tinha com a terra uma bonita relação, e pedia auxílio dos filhos quando ia

 semear.

Elza lembrava-se das muitas  vezes em que ia  pondo sementes na terra por ele preparada.

Com a adolescência surgiram algumas necessidades para  a nossa protagonista, e para comprar meia de

 seda e fivelas para o cabelo, vendia peixes, que pegava pelas guelras no "pári "que havia no rio. O Sr.

 João Vieira era o cliente preferido.Ela também costumava visitar os amigos D., Bega e o marido em

 Perdizes; numa das ocasiões em que lá esteve conheceu, e se apaixonou ,pelo Agente da Estação,

Euclides. Ficou impressionada com o uniforme que ele usava:de cor azul com botões dourados.Ele

também ficou impressionado com ela e a presenteou com uma caixa de pó-de-arroz "Cashmere

 Bouquet" e um corte de fazenda que trouxera de Marcelino Ramos.


Quando foi transferido deixou-lhe uma carta, na qual dizia ter sido ela o seu último amor, e que talvez

 tivesse sido , dela, o primeiro amor...

Continuando as reminiscências de minha mãe sobre sua infância e adolescência...

(trechos de autoria de Elsi)

..."Com a transferência para o Rio Uruguai, nova mudança para a família. A mãe(Rosinha) não gostou,
pois estava acostumada com a cidade, onde residiam alguns familiares, e as crianças estavam adaptadas. A cidade de Rio Uruguai ficava no extremo sul de Santa Catarina, quase nos limites com o Rio Grande do Sul. No meio do caminho ficava União da Vitória, onde moravam Paolo e Júlia(irmãos  e cunhados de João Baptista e Rosa); Paolo ocupava cargo de importância na Rede Ferroviária.
O casal foi esperá-los na Estação, levando cestas com alimentos e roupas, e doces para as crianças, pois pela frente havia um longo caminho ainda.

Chegaram à noite em Rio Uruguai, pequenino lugar encravado entre morros.Poucas casas, dois armazéns(um de fazendas, outro de mantimentos), um hotelzinho, a  estação ferroviária ,e mais nada.
Macacos(bugios) urravam à tardinha, e no princípio chegara a amedrontar.

Logo, porém, todos estava incorporados à paisagem, na qual o rio era o grande protagonista. E o lugar, embora muito pequeno, transformou-se para eles no melhor lugar do mundo.Um verdadeiro paraíso...

As crianças e o rio, que dera nome ao lugar, fizeram uma parceria de sonhos e encantos. Um rio sem poluição, com muitos peixes(Elza os pegava com as mãos), pedras e muita história, se tornou para as crianças, no melhor e mais inesquecível dos amigos...

quinta-feira, 24 de março de 2011

dedicatória em um livro

Em texto anterior, que  transcrevi, meu pai falava num livro que havia comprado para dar à  mamãe   ao fazerem 22 anos de casados.   O livro era sobre a França, e foi o substituto de uma viagem que   sonhavam   fazer.

Eis a dedicatória, bastante comovente:

"Nesta data, realização do maior sonho de minha vida,  pelo vigésimo segundo aniversário, como

símbolo de parte de um plano de sincero amor, a você, Elza, ofereço essa lembrança daquilo que

devia ser e não foi, com a certeza de que é consolo o livro, viagem parada dentro do lar, pelos

 caminhos do mundo."

Mandaguari, oito ,às 17 horas, de Setembro de 1956.

                                                  De Brasílio.



- Tudo correto no rascunho, mas na hora de editar....  Frases que só vão se completar em outra linha, sem estética. Culpa minha, ou do "blog"?

domingo, 19 de dezembro de 2010

Trechos de uma carta de Brasílio, de 1969, na qual expõe ideias para se resolverem  os problemas de fome no mundo:




"...O paranaense é displicente em referência aos seus tesouros: o homem do sul, encantado pelo ambiente das "araucárias brasilienses", tem  certa indiferença pelas terras do norte-oeste roxas do Paraná.
Porém, ele precisa saber, aqui se está criando a civilização dos dias futuros do Brasil, com sentido utilitarista da vida, por homens ousados, muitos sem grandes escrúpulos morais; e o sulista precisaria vir exercer a suave influência de brasileiro humano e fraternal, com visão coracional mais consentânea com as necessidades do futuro, num mundo  de paz e de harmonia, pela exata exploração dos recursos da terra  e, sobretudo, do mar- para não preocupar os nobres espíritos pela solução inquietante da super-população do mundo, temerosos da discutível e não aceita racionalmente tese Malthusianista, porque, basta a aplicação da inteligência humana para resolver o problema da fome, se nós recorrermos sabiamente aos recursos do mar. Basta um exemplo que me está sempre presente no pensamento: uma tainha desova 40 bilhões de ovos a se transformarem em peixes; a luta entre o ser vivo e o ambiente reduz esse número incalculável a tão somente 500 outras unidades de outras tantas tainhas.
Estabelecidas as fazendas dentro do mar, separadas por divisões de materiais mais ou menos semelhantes ao vidro(um tipo de plástico já usado na Inglaterra), dia virá em que esses 40 bilhões de peixinhos crescerão para uso do mundo e originados de uma única unidade, e : - guerra à fome dos humildes, sobretudo das criancinhas pobres, quando se pensa que uma delas, quando nada, pode representar e ser um Castro Alves, um Santos Dumont, um Louis Pasteur ou uma Madame Curie"...

terça-feira, 30 de novembro de 2010

 Os  últimos textos, sobre a infância e mocidade de mãe, mais trechos de cartas de Brasílio, vou refazê-los, pois estavam muito ruins...

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Recordações

Trechos de carta escrita por Brasílio  para suas filhas, em 1966.



"... Depois de desperto, com muita saudade de nossa vida simples do passado, reevoquei-a.Revi o nascimento de Lavínia e Elsi, imaginei o de Cristina.(  -não estava presente no momento.)
Relembrei os dez primeiros dias de vida de Lavínia, principalmente quando, suspendendo a mamada no momento em que eu entrava em nosso quarto, ela jogou a cabeça para trás e, vendo-me, sorriu; depois quando, com apenas alguns meses, pela primeira vez disse "papa". Mais tarde, conforme carta de sua mãe, apontando para o meu retrato, outra vez me chamou carinhosamente; como engatinhava para trás;logo a alegria de seus primeiros passos, até o dia em que, como mandona, dizia para Cleomar"-Não, culia, não culiazinha"! impedindo que usasse sua cadeirinha. Seu primeiro aniversário, festejado com muitas bolas de cores e os seus primeiros brinquedos, dois palhacinhos e a boneca  negra ; sua intensa vocação em observar,atenta, desde nenezinho, as  figuras do "Tico-Tico".


Continuarei noutro dia.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Tenho mais comentários; noutro momento continuo, para "me incentivar"...

Outra prima, filha do Joãozinho, escreveu:

"Olá, Bebel, minha pilma; rsrsrs...

Adorei seu blog. Textos nostálgicos e emocionantes. Parabéns!

Comentário de Ana Cristina Gabardo, minha priminha intelectual:


"Olá, garota!

Que lindo teu blog!
V. sabe que tenho grande admiração pelos escritores e vc é uma e das boas!
Continue nos brindando com estas belas palavras. Um grande abraço. "

Da amiga Mariliz:

"Quanto ao blog, andei dando uma lidinha, achei muito lindo, acho que v. poderia mesmo era escrever um livro  com esta história; é linda, cheia de sentimentos verdadeiros, e muito bem escrita também.
Parabéns, vou continuar lendo aos poucos.Pena que não haja espaço p. comentários, pra gente ir deixando as impressões ao longo do caminho."

 E em comentário posterior:
"Quanto ao blog, acho que você está fazendo um trabalho bem legal, pois não há nada que supere a vida real em beleza e poesia, apesar das dores, ou muitas vezes até por conta delas."

De Andrea Valério,  amiga:

"Adorei o blog, o nome do blog, a foto do blog.
Mas   o  que mais gostei foi  de seu estilo de escrever.
Sugiro começar um livro de verdade com o mesmo título do blog.
Beijos, Andrea."

De uma prima   muito carinhosa ,Leniza:

"Querida priminha, achei muito bonito o que você escreve sobre o passado, reverenciando seus entes queridos. Tem beleza e poesia. Parabéns, minha querida, que mora no meu coração... Beijos, mas cuidado para não viver só do passado, a vida é linda.
Você tem muito talento. Adorei."

Tenho tentado adicionar espaço para comentários, mas não consigo, simplesmente não aparecem.
Então vou deixar a  modéstia de lado, e escrever aqui alguns comentários que recebi via-e-mail.

É verdade que são de amigos e parentes, mas minha autoestima mandou acreditar, ha, ha, ha...
 De Luís Antonio Fidalgo (e ele é um grande escritor, gente, com prêmios em concursos e tudo o mais...

"Apriori, amiga

Devo dizer que me emocionei lendo seus textos, não somente porque tratam de uma pessoa que conheci bem e de outras que não me são totalmente desconhecidas,mas, também porque ali aparecem outros temas coadjuvantes como a ineroxabilidade do tempo e a fragilidade de nossas existências, só para citar dois deles. De alguma forma, seus textos me fizeram lembrar a história contada por Isabel Allende, na "Casa dos Espíritos", onde se vê a saga de gerações sintetizada num pequeno lapso de tempo.Foi possível vê-las naquele quintal, com vestidinhos da época explorando aquele reino de curiosidade e achando as botinhas. Foi possível ir e voltar no tempo...(Para aqueles que sabem sonhar.) Pena que na vida real nos falte essa possibilidade mágica.

No mais, amiga, fico no aguardo de novas emoções, que são tantas, como diz o Rei...
E parabéns pelos textos. Abraços."

 -Eu fiquei muito honrada com esse comentário, Fidalgo!

Eu havia feito o rascunho, mas só agora estou editando:

No prazo de uma semana as duas últimas tias, irmãs de mãe, partiram.

Sobre tia Idê:

Embora tivesse convivido pouco com ela(morava em Recife), lembro-me com saudade de seu jeito autêntico de ser,  de sua alegria que explodia com uma certa pureza e espírito  criança .
Quando vinha nos visitar, dormia comigo na mesma cama e me chamava  de seu "marido", com a risada mais gostosa desse mundo...
Lembranças boas, tia "Ideca"(como dizia mamãe...)
E ela formou uma família maravilhosa, dessas como pouco se vê.  Obrigada pelos queridos primos, sempre presentes, embora  distantes!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Querida tia Ida,

Sua partida

Abriu uma ferida,

-Bem doída-

Em nossa vida.


E em nossos corações...

"Tia Ida"

Existe agora mais uma estrela no meu céu. E brilha muito...
Em junho , tia Ida nos deixou...

Em Maio ficou alguns dias conosco, e escrevi um cartão a ela pelo dia das Mães( intuição?) Nele eu dizia:

Querida tia-mãe Ida,


mas volta, hein?

Obrigada por tudo, desde aquele longínquo e delicioso pão na chapa, ao vestido azul tão lindo que fez para mim, ao conforto nas horas tristes e à alegria nas horas felizes;à companhia nos bailes e cinemas, e ainda mais...
(Até à brabeza com que "tentava" nos educar, quando crianças...)

segunda-feira, 19 de julho de 2010

...Divulgador da cultura, humanista, idealista, um homem à frente de seu tempo... Eis Brasílio de França Costa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Gosto pela Leitura

Eu tinha umas anotações de mãe sobre os livros que ganhara de presente e

adorara, mas vi nas anotações de Elsi: "Num certo dia o pai chegou em casa

trazendo para Elza um livro com capa verde-claro, cujo título, em letras

prateadas, a encantou:Pérolas Esparsas; era uma coletânea que trazia desde

receitas a contos e poemas.

Um novo mundo abriu-se para ela, e pela vida afora sempre gostou de ler."

sábado, 3 de julho de 2010

Mais um texto encontrado em uma agenda de gastos domésticos.


"...Ontem, ao dar aula, pois sou professora no Grupo Escolar Barão de
Antonina, um dos mais conceituados do Estado, fiquei comovidíssima quando
uma menina me mostrou uma caneta, toda feita de fio de seda, com as cores
de nossa querida Bandeira. Disse ela que a caneta foi feita por presos
de uma penitenciária em Mafra, estado de Santa Catarina.

Senti meus olhos encherem-se de lágrimas ao ler esta frase feita com o
próprio fio: "Seja Feliz".

Quanta coisa essa frase encerra. Quanta coisa essas palavras devem
representar para ele!

Talvez, fazendo a caneta, ele tenha voltado ao tempo de criança; se foi
feliz, sentiu saudade- saudade do tempo em que era livre.

Liberdade - sem ela, que tristeza! E quanta gente vive entre quatro
paredes, talvez injustamente, e a maior parte por ignorância, por
erro de educação...

"Seja Feliz!" Ignorante - mas com um coração nobre, trabalhando a
caneta, ele enviou uma mensagem de seus sentimentos e de seu coração à
infância de nossa querida Pátria..."

Achei este texto em uma agenda antiga,

escrito por Elza.

" ...Quando volto ao meu tempo de adolescência, é com enorme saudade e
gratidão que relembro o primeiro presente que recebi... para mim foi o
maior, o melhor, e nunca nenhum se comparou a ele; tendo passado
tempo, é como se fosse hoje que tivesse recebido.

Eram cinco livros de histórias: dois volumes de "O Velocino de Ouro, Os
Três Príncipes Coroados, Rosa Mágica e O Sargento Verde.

Vieram numa espécie de bolsa, e foram presente de um amigo de minha
família.

Como me senti feliz! E os lia ao entardecer, à beira do Rio Uruguai, do
meu grande companheiro de infância ..."

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Nestes u´ltimos dias tenho postado reminiscências apenas, mas pretendo

escrever trechos de cartas deles que dirão muito mais ... Além de serem belas

páginas de amor...

Lavínia tinha uma bela voz; quando vinha passar a tarde conosco, subia as escadas cantando ou asssobiando. Lembro-me muito bem da última vez em que isso aconteceu:junho de 2005...

...Suas mãos eram brancas e fofas, quentinhas; eu lhe dizia que pareciam
pãezinhos de minutos quentinhos,e ríamos com essa comparação; ela diversas vezes esquentou as minhas, principalmente em momentos de tristeza, como quando do enterro de pai e mãe...

Sobre Brasílio

Meu pai teve uma infância de menino "bem-nascido", com algumas regalias
por ser homem em uma família na qual os meninos haviam morrido precocemente.

Tinha uma "lanterna mágica" com filmes cuja sequências eram pintadas em
vidro(miniaturas perfeitas) vindos da França. Os mesmos apresentavam vários
temas, como a história da França ,costumes e lendas.Existem alguns até hoje e nos encantam pelos detalhes e perfeição.Peças para museus, difíceis de encontrar em nossos dias.
Um episódio que ele contava era sobre o Cometa Halley, que viu criança, e
o encantou.
Dizia que parecia um pavão imponente, abrindo as asas, o que lhe foi motivo de deslumbramento ...
Na passagem mais recente do Cometa, sua expectativa foi frustrada; fomos vê-la na praia, eu, ele e Lavínia. Mas foi uma decepção para nós três. Não vimos nada...

Outras lembranças de Elza.

.... Morávamos perto da linha do trem.


Fiquei com sarampo, e na época era costume que a pessoa com tal doença
ficasse num quarto escuro; foi o que aconteceu comigo.Mas quando havia sol,
uma réstea dele, no teto, mostrava-me as sombras dos que passavam lá fora-
pessoas, cachorros, trens...
Eu tinha uma moeda grande e pedi para meu irmão Nêne ir comprar: bananas!
As quais comi com grande prazer, sem me importar se fariam bem ou não,
naquela situação.

Outra vez, uma menina vizinha pediu que mamãe me deixasse ir com ela à
matinê; então fomos, e como acabou muito tarde o filme(do qual até hoje
lembro o nome:"O Homem de Aço") voltava , distraída,e quando cheguei vi
minha avó rezando, minha mãe também; meu pai deu-me um tapa tão forte, que
caí sentada. Estavam preocupados com minha demora.
...Também não me lembro que ele tivesse batido em mim, a não ser naquela
ocasião.

Era um homem de bom coração e com muito senso de humor.
Quando eu corria atrás dos passarinhos, querendo alcançar um deles , me
dizia: sua boba, você precisa, para pegar um deles, colocar uma pedrinha de
sal em seu rabinho... eu pensava, mas como vou conseguir pôr essa pedrinha
no rabo do bichinho?...

... Para finalizar minha vida nessa cidade, meu pai chegou num certo dia
dizendo para para nós que havia sido removido para Rio Uruguai, na divisa
com o Rio Grande do Sul, sendo esta a última estação de Santa Catarina.
Minha mãe não gostou nada dessa história, e disse que não ia morar em mato
nenhum. Ele retrucou: -Sua boba, lá tem até avião...E assim, a mesma aceitou..."
Mais tarde tentarei contar o encantamento desse lugar nas lembranças de
Elza, o nunca esquecido rio de sua infância e início da adolescência...

Continuação das lembranças de Elza

... Kaiser.

Eu sempre ia à escola acompanhada por uma amiga chamada Ondina.
Uma vez, porém, estava voltando sozinha, e um cachorro avançou, grudando com
seus dentes na barra de minha saia pregueada de estudante.Por mais que
gritasse, o cachorro não desgrudava. Fiquei apavorada; desde aquela ocasião
passei a ter muito medo desses animais.
Um senhor que estava num bar veio em meu auxílio e livrou-me do cão.

Recordo que ia na cerca e olhava as casas vizinhas, as quais estavam
todas fechadas. Perguntando para minha mãe o porquê daquilo, ela
explicou que era por causa da gripe espanhola, que estava matando muitas
pesssoas.

Mas em nossa casa não houve esse problema, porque meu pai pegou um barril
com água e pôs quina branca, fazendo com que nós só tomássemos aquela água.

Meu pai era um homem alto, grandão e muito ereto, bonito mesmo, e de
presença marcante, espirituoso. Amoroso, me chamava de "Pimpa".
Quando fomos morar num lugar do interior, ele deveria consertar muitas
máquinas velhas,pois entendia de mecânica; também sabia fazer móveis e
casas, era bastante habilidoso.
Já minha mãe era miudinha, simples e ingênua, e muito apegada à família.

... Tive um sonho, certa vez, no qual ia indo para o Colégio com minha
amiga.
A rua tinha uma descida com um riacho ao lado, e suas margens eram de
areia. De repente, minha amiga desapareceu, ficou um pouco escuro...
Vindo do rio, um Anjo, do tamanho de um homem, com roupa azul e branca(não
lembro se tinha asas). Pegou minha mão e levou-me até um lugar de areia,
dando-me uma espumadeira da ágata azul e branca e riscou uma roda no chão,
mandando que eu cavasse, sumindo em seguida.Após cavoucar um pouco,
apareceu a alça de uma panela; tirei mais um pouco de areia e surgiu uma
panela bem grande também azul e branca, cheia de moedas grandes, cor de
ouro.

... Tirei, no sonho, a panela, e pus no braço, voltando para casa; porém
mesma estava tão pesada que resolvi parar e colocá-la no chão.
Nesse instante acordei.
Noutro dia contei o sonho para meus pais, e meu pai disse para irmos à noite
no local do sonho para cavoucarmos e talvez achar as moedas; mas minha mãe
meteu-me medo, dizendo que no momento em que fôssemos, todo mundo dizia,
haveria uma forte ventania e apareceria o demônio. Diante disso, me
apavorei e não quis mais ir...


...Fiz a primeira comunhão no Colégio das freiras onde estudava. Ganhei a
fazenda para o vestido, de minha madrinha;era de algodão com florzinhas de
seda. Minha mãe disse que ia mandar fazer o vestido de gandola- uma saia e
um blusão abaixo da cintura, havendo casas nas quais passavam fitinhas
que davam laços nos lados.
Papai comprou-me um sapato de verniz preto, raso, com uma pedrinha brilhante
na gáspea, para o qual eu ficava olhando, embevecida,tão lindo o achava.
O véu e a grinalda as freiras emprestaram, e essa parte foi arrumada no
Colégio.
Minha mãe me falou que eu ia receber a hóstia, que não podia engolir nem
mastigar.Mas a hóstia grudou no céu da boca, e na hora da mesa do café,
ainda estava lá; eu, com grande medo de pecar, engolindo a mesma.

... Outro fato que recordo desta fase em Ponta Grossa foi aquele dos
gafanhotos. Meu pai chegou em casa e nos mandou bater tampas de panelas e
latas no quintal e na horta, para espantar os gafanhotos, que estavam vindo
em bando.
Quando nós, crianças ,os vimos, corremos assustadas para dentro de casa. Éramos quatro:eu, Nêne, Ida e Nair.
Os bichos comeram todas as verduras; também, pudera, eram como uma nuvem
espessa...

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Continuação das lembranças...



..."Fomos morar em Ponta Grossa,na rua Do Rosário, numa casa de esquina com
portas envidraçadas; tinha um pé de magnólia muito cheirosas na frente,
a qual ficava cheíinha de flores.

Essa casa ficava perto da Estação, e meu pai era maquinista;
ele fazia as viagens de Ponta Grossa a Curitiba, e quando passava
apitava com um apito de trem lindo e bem comprido, enquanto se distanciava.
Nós corríamos para vê-lo...
Sempre fui fascinada por trens, desde aquela época...
Nessa ocasião, minha mãe estava grávida, não lembro de qual filho(foram onze,
ao todo, mas sobreviveram oito.)
Um dia, mandou-me com Nêne(apelido de Antonio) chamar a parteira.
Quando voltávamos com ela, que vinha sacudindo sua maleta , eu disse para
meu irmão: -Ali dentro está o nenenzinho , e ela sacode a maleta para ele
não chorar..."

..."Minha tia morava na mesma rua, na esquina; era essa tia(Júlia) irmã
de mamãe(Rosinha), casada com o irmão mais velho(Paolo) de meu pai(João Baptista).
A casa era de pessoas com posses, pois tio Paulo era chefe na Rede
Ferroviária.
Íamos, eu e Nêne visitá-los, e ficávamos ,quietinhos, a olhar os móveis
bonitos e a decoração.
Eu gostava ver um quadro grande retratando o rei da Itália com a rainha e
duas filhas moças, uma chamada Matilde e a outra Mafalda.Achava lindo esse
quadro, e quando nasceram minhas irmãs gêmeas, quis que pusessem esses
nomes nas mesmas; que, infelizmente, não viveram muito tempo..."

..."Estudei no Colégio Santana, em Ponta Grossa, no alto da rua onde
morávamos. Ali estudei e aprendi a fazer tricô. Mas foi minha mãe quem me ensinou a ler.
Quando ia para a Escola sempre via jornais jogados, com manchetes sobre
a Primeira Guerra Mundial. As pessoa detestavam o Kaiser...

As lembranças de minha mãe


..."Lembro-me de ter uns dois anos e chorar muito, à noite. Então, meu pai

pegou-me e me levou à uma varanda e, vigiando, deixou-me ali a olhar a

natureza. Recordo até hoje a Lua, tão grande e bonita! Sei que fiquei

quietinha, olhando para ela... Acho que começou aí o meu encantamento pela

natureza.





Aparição da Nêne


... Tínhamos em casa a foto de uma prima, a Nêne, em sua primeira comunhão.

Segundo minha mãe, esta me queria muito, e me embalava sempre. Mas eu não a

conhecia pois ,na época, estávamos morando em outro lugar e ela em Curitiba.

Aos 5 anos, aproximadamente, uma noite dormia com meu

irmão menor em uma cama alta que papai havia feito; (era alta para nos

proteger dos insetos, comuns na região.)

Acordei com o quarto iluminado fortemente, e ao olhar na direção da porta

vi esta minha prima ao lado de uma mesa onde estava um saco de trigo. Ela

apoiava sua mão na mesa e estava vestida exatamente como na foto...

Pensei comigo: é a Nêne...

Fiquei com medo e virei-me de costas para a aparição...

Senti uma mão que me passava pelas costas;gritei e fiz muito

barulho.Meus pais vieram e lhes disse, chorando, que havia visto a Nêne.

Expliquei, mas eles queriam me convencer que isso não era possível, pois

ela estava em Curitiba; papai passou-me para o outro canto da cama,

deixando-me perto da parede.

Alguns dias depois recebemos a notícia de que ela tinha contraído

tifo e havia morrido"...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Este texto de Lavínia foi entregue ao Fernando, para que o revisasse, pouco tempo antes da doença que a tirou de nós. Ela era uma grande "escritora"...


AO SOPRO DO NOROESTE...


(Lavínia Maria Costa Straube)



Vinham pelos caminhos tortuosos, tão duros, tão estreitos, num passo a
passo contínuo, no incessante caminhar...
Cabeças baixas, olhos sem expressão, baba grossa a escorrer da boca, no
repetido ruminar. Mulas, simples mulas.
Algumas com cangalhas, com bruacas, onde se descobria uma ponta de rede, um embornal, ánelas, a trempe amiga.
Bem à frente, a mais garbosa, andando leve, toda enfeitada de guizos e flores . A madrinha!
Sempre a primeira a empacar! Era um Deus nos acuda!
Muitas vezes o motivo era um besouro voando mais baixo, roncando sua
alegria pelo dia de sol, outras, a lebre mais afoita, a cruzar o caminho como um raio.
É certo que também uma pinguela podre, um buraco fundo e largo, disfarçado
pelo mato, perigo para toda a tropa, eram evitados pela parada brusca da
madrinha, logo seguida pela tropa toda.Eta, passarinheira!
O cantarolar morno e baixo dos tropeiros ecoava pelos desvãos da estrada,
nos Campos Gerais, reboando e se repetindo na fantasmagórica cidade das pedras, a Vila Velha lendária.
Agora, o caminho cheio de altos e baixos, de flores, de cascatas
cristalinas... As paradas, as pousadas, os ranchos de beira de estrada, os altivos e nobres pinheiros; a terra farta e boa, onde a semente-
trabalho frutificava em tantos mil réis a encher os "pés-de-meia", fazendo
riquezas, comprando pastos para criar o gado, terras para as plantações.
E lá ia a tropa, na longa jornada, levando a riqueza, transportando a
colheita.
Mais além, o rio, o Tibagi, sereno e nobre, parada obrigatória da tropa que
parecia senti-lo, ainda bem longe, erguendo-se em novo alento, até
encontrar a água límpida, tão necessária à caminhada, à vida...

- Será no Tibagi, companheiros. Mais ou menos a uma hora...
- Na saída nós liquidamos ele e o dinheiro há de ser nosso!
- É mesmo! Tanto para um só!
-Tá combinado. Tô com vocês!

Encostado às mulas, nhô Cândido ouve, sem ser visto, a conversa traiçoeira.Os peões de sua confiança!
Não, não era surdo não!
E começa a soprar o Noroeste. Vento amigo, que parece lhe dizer:
-Nhô Cândido, é sua última viagem!
Luta árdua, que termina; e como fora duro o início!
Tropeiro humilde, muito humilde e pobre. Mas trabalhando e
trabalhando, fora crescendo, subindo e aí estava, dono da tropa .Tão
grande. E de terras tão vastas...
É dono do sorriso, do amor de sua Isabel!
O sonho dos dois era pequeno, bem simples. Uma casinha, uma hortinha,
jardim, pomar e as crianças chegando.
Nunca mais o caminho tão duro que as mulas iam agora, pouco a pouco,
vencendo.
Ouvindo seus peões sentiu seus sonhos irem sumindo...
Traição e cobiça acabariam com ele, para sempre.
Fugir, para onde? Como?
Apelar? A quem?
Em sua angústia, segue junto às mulas. Encostado a elas, parece pedir-lhes
proteção.
E o Noroeste, agora a assobiar, a rir, escarninho, segredando:
Será no Tibagi. No Tibagi!
E foi no Tibagi onde ficou Nhô Cândido, espancado, roubado e quase morto,
mas conservando na mão cerrada, o anel de ouro com o nome de Isabel
gravado, que escapara à sanha dos peões.
Olhos esbugalhados, com brilho estranho! E o anel, sempre em sua mão, que
ninguém conseguira abrir!
Acudido vai, pouco a pouco, recobrando a lucidez.
Sua Isabel, companheira para toda a vida, ajuda-o a refazer os planos.O
anel passa para seu dedo.
Casa com ele. Vivem felizes, com o pouco que têm.
Mas, que não sopre o Noroeste!
Atira-se aos socos contra o vento, perseguindo-o a gritar:

-Tibagi Tibagi...
Até cair exausto.
O véu da mente se descerra e ele volta a viver de novo o pavor, até que o
Noroeste suma...

Ela era quase Isabel. Em 1965.
Em 1865 vivera a outra, de quem ela teria, como herança familiar, a
aliança larga, pesada, de ouro.

Com o nome Isabel, gravado no interior, com letras grandes.
Desde bem pequena ouvira a história e gostava de segurar a jóia, olhando
interessada o nome gravado.
Que era quase o seu!
Até que, madrugada ainda, acordou a mãe, dizendo:
-A moça veio buscar o anel.
-Que moça?
-Grandona, bem bonita, alegre. Quer o anel. Vou dar para ela!
-Tá bom, tá bom!
E a mãe voltou a dormir, desinteressada.
No outro dia, mais outro, mais um, mais uns e nada de se encontrar o anel.
Que nunca mais foi achado.
A trisavó viera buscá-lo?
-Responda, Isabela!
E a menina sorria...

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Em Rio Uruguai...

As poucas casas ficavam próximas da Estação Ferroviária. Uma delas serviu d

de moradia para a família. Como era pequena, o pai teve de aumentá-la;

construiu primeiro um cômodo e, como continuasse a ser pequena para todos,

anexou do outro lado um vagão de trem. Elza sempre se recordava desta

estranha casa , pelo exterior engraçado que mais parecia uma ave ou avião

com uma das asas cortadas.

Trens iam e vinham todos os dias, exercendo fascínio nas crianças(Elza, Antônio, Ida, Nair e Idê).

Do R. Grande do Sul a São Paulo e de São Paulo ao Rio Grande do Sul,

cortando 4 estados; viagens longas que exigiam carro-leito e restaurante,

e quando paravam em Rio Uruguai as crianças ficavam encantadas com os

passageiros: mulheres de chapéu, homens de terno e gravata, meninas com

lindos vestidos.

Nossa protagonista logo que teve uma oportunidade entrou no trem, e ao

ver-se no espelho do lavabo pôde verificar como havia crescido.Espelho não

havia em sua casa, apenas os vidros das janelas e o rio que lhe forneciam

sua imagem.

Em Rio Uruguai nasceram Paulo(Lele), e mais tarde Romeu.

Alguns fatos desta época ,sempre lembrados por Elza: às vezes o rio crescia

com as enchentes e todos ficavam preparados para abandonar a casa.As crianças , com suas trouxas de roupas, ficavam excitadas, e até queriam que

o rio transbordasse, pois iriam embora no trem .Mas nunca foi necessária a debandada.
O pai, filho de agricultores, tinha com a terra uma bonita relação e pedia ajuda dos filhos quando ia semear.Sua filha mais velha, por ele

chamada de "Pimpa", lembrava-se das muitas vezes em que ia colocando sementes na terra por ele preparada.

Com a adolescência surgiram algumas necessidades para Elza, e para comprar meia de seda e fivelas para o cabelo, vendia peixes, que pegava pelas guelras no" páris" que havia no rio. O Sr. João Vieira era o cliente preferido.

Costumava visitar "Dona Bega"em Perdizes, e numa das vezes em que lá esteve, conheceu, e se" apaixonou", pelo Agente da Estação, Euclides B.
Ficou impressionada com o uniforme que ele usava: azul, com galões dourados.

O moço retribuiu a afeição e a presenteou com uma caixa de pó-de-arroz Cachemir Bouquet e um corte de fazenda que trouxe de Marcelino Ramos.

Logo, porém, foi ele transferido, e lhe deixou uma carta na qual dizia que ela tinha sido o último amor de sua juventude. Para Elza, no entanto, ele foi o primeiro amor.

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domingo, 16 de maio de 2010

Fatos marcantes da vida de Elza Gabardo Costa

(escrito por Elsi Gabardo Costa)

Elza,que o pai queria Ana Gentil, nasceu no dia 11 de Novembro de 1909, na

região próxima à Estação Ferroviária, no então chamado "Boulevard Capanema", em Curitiba.

Era a segunda filha de Rosa Razzzolini e João Baptista Gabardo. O primogênito, de nome Mário,

 morreu logo após o nascimento.

O nome Elza foi escolha de sua mãe, mas há o registro de seu batizado na

Igreja de Santa Felicidade, como Ana Isabel. No final, foi a vontade da mãe

que prevaleceu, e o nome Elza se impôs.

Quando tinha dois anos nasceu seu irmão Antônio, uma homenagem ao avô

paterno com nome idêntico. Logo após o nascimento de Antônio,

familiarmente chamado de Nêne, o pai, que era ferroviário, foi transferido

para Itaperuçu, localidade próxima a Curitiba. Lá nasceram Sofia Idalina

(nome de sua avó materna), e Nair.Assim, em 1914, já eram quatro os filhos

do casal.
Elza e Nêne foram muito apegados, desde pequenos.

Uma de suas mais antigas lembranças ocorreu neste lugar.


Antônio era bebê ,e à noite ela começou a chorar forte , o que poderia

acordá-lo.O pai tentou distraí-la, mas como continuasse a chorar ele a

colocou na varanda da casa, vigiando-a de longe. A noite era de lua cheia,

pleno verão,e Elza se encantou com o que viu:- céu estrelado e lua

brilhando. Parou de chorar, e a beleza do fato se constituiu em uma de suas


mais bonitas lembranças.

De Itaperuçu foram para Ponta Grossa, importante entroncamento ferroviário,

e onde seu amor pelos trens se fez mais forte. Nesta cidade nasceram Idê

(1917) e as gêmeas Matilde e Mafalda(1919). Foi Elza quem sugeriu os nomes

dessas, depois de ver uma foto da família Real Italiana. O Rei Victor

Emanuel tinha duas filhas com estes nomes. Infelizmente as gêmeas não

chegaram a ser fotografadas, porque morreram novas. Mas enquanto viveram,

e porque a mãe já tinha cinco filhos para cuidar, coube aos mais velhos a

tarefa de fazê-las dormir. Elza ficava danada, pois depois de fazer uma

delas dormir, tinha de ajudar o irmão a fazer dormir a outra.


Foi em Ponta Grossa que Elza iniciou sua vida escolar e sua primeira escola

foi o Colégio Santana, lembrando-se com carinho de sua primeira professora:

a Irmã Sales.
Fez lá a primeira comunhão; recorda-se do bonito vestido, e da mesa farta,

após a cerimônia.
Talvez seu pavor a cachorros tenha suas origens nesta cidade.Certo dia,

voltava da escola quando um cachorro abocanhou sua saia, fato que aos sete

anos poderia ser apavorante.Começou a correr, mas o animal não largava da

saia. Felizmente um senhor veio em seu auxílio, espantando o cahorro.Desde

então , sempre teve medo de cães.


Em Ponta Grossa teve um sonho que a marcou profundamente:- nele lhe

aparecia um Anjo, que pegando sua mão, a levou para um lugar(que ela

reconheceu) e com uma espumadeira azul fez uma circunferência dizendo-lhe

para cavar o interior.. Ela obedeceu e encontrou uma panela, também azul,

cheia de moedas de ouro.Contou o sonho para os pais; mas enquanto o pai




queria ir ao local, pois acreditava na possibilidade de encontrarem a tal



panela, a mãe a assustou, dizendo: "Não vá ,não, pois vem uma tempestade e

o Diabo aparece." E, para tristeza do pai, Elza não quis ir.

Em Ponta Grossa e no Brasil todo, grassava a gripe espanhola(1818),

responsável por muitas mortes. Na casa deles a gripe não chegou. O pai, um

homem à frente de seu tempo, colocou quinino na água que todos tomavam e,

com boa dose de vitamina C, consumida com muitas laranjas e limões, todos

escaparam do perigo.

Num certo dia o pai chegou em casa trazendo para Elza um livro com capa

verde-claro, cujo título ,em letras prateadas, a encantou.:"Pérolas Esparsas"; era uma coletânea que trazia desde receitas a contos e poemas.

Um novo mundo abriu-se para ela, e pela vida afora sempre gostou de ler.

Com a transferência do pai para Rio Uruguai, nova mudança para a família. A

mãe não gostou, pois estava acostumada com a cidade, onde residiam

alguns familiares, e os filhos estavam adaptados.Disse que não queria ir,

mas o marido falou: "Não seja boba, você vai gostar. Lá tem até avião..."

Coitada! Acreditou.E, numa bela manhã, a família embarcou rumo ao Rio

Uruguai no extremo sul de Santa Catarina, quase nos limites com o Rio

Grande do Sul. No meio do caminho ficava União da Vitória, onde moravam

Paolo (irmão de João Baptista) e Júlia(irmã de Rosa). Paolo ocupava cargo importante na Rede Ferroviária.

O casal foi esperá-los na Estação, levando cestas com alimentos, roupas, e
doces para as crianças, já que pela frente havia um longo caminho ainda.
Chegaram à noite em Rio Uruguai, pequenino lugar encravado entre

morros.Poucas casas(dois armazéns-um de fazendas, outro de mantimentos),

um hotelzinho, a Estação Ferroviária e mais nada.Macacos (bugios) urravam

à tardinha e no princípio chegaram a amedrontar.

Logo, porém, todos estavam incorporados à paisagem, onde o rio era o

grande protagonista.E o lugar, embora bem pequeno, transformou-se para

eles no melhor lugar do mundo.Um verdadeiro paraíso.

As crianças e o rio, que dera nome ao lugar, fizeram uma parceria de sonhos

e encantos.Um rio sem poluição, com muitos peixes(Elza os pegava com as

mãos), pedras e muita história, se tornou para as crianças, no melhor e

mais inesquecível dos amigos...
(essa vivência, nos próximos capítulos....)

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Mais trechos de cartas, desta vez de Brasílio p. Lavínia.



..." O trisavô da Ilha da Madeira, aquele que trabalhava arduamente desde

às quatro da manhã para sustentar sua família de mulher e vinte e um

filhos, e para os quais deixara vinte e um contos "per capita;mestre a

jamais admitir seus filhos aprendessem a ler, porque desde o bisavô ninguém

sabia ler e todos morreram muito ricos. Muito menos isso se poderia dar

com as mulheres,pois seria para escrever cartas para os namorados- pelo que,

envergonhado ainda, sempre estou a ouvir a voz de minha bem amada avó

Balbina: "Como é triste não se saber ler"! para ela, que me pedia lesse

até os anúncios, e com eles, com o olhar distante de sonhadora, sempre dava

a impressão de construir mundos maravilhosos, como, das notícias ouvidas,

viajava pela terra... Ao relembrar isso com ternura e muita emoção,
sobretudo pelo embranquecer de seus cabelos em poucos dias após minha saída

de casa pela conduta implicante de minha madastra- pesa-me a consciência

de não na haver ensinado a ler...
Mas, em Santo Antonio da Platina, quando Diretor do Grupo Dr. Ubaldino do

Amaral, ensinei, em homenagem a minha avó Balbina, à Sra. Maria

Rodrigues, ex-dona do Hotel dos Viajantes, de propriedade do marido, um português de linguagem empolada e gozável.



Um dia, eu fora a Tomazina consultar a experiência do meu primo e dileto

amigo, advogado Antonio Chalbaud Biscaia, e como só poderia retornar em o

dia imediato, procurei um hotel na cidade, em um sobradode muitos degraus;

lá, quase chegando ao céu, ouvi a seguinte frase, aliás, para meu espanto:-

"Professor Brasílio, como devo tudo o que sou ao Senhor"!Por mais procurasse

a dona da voz, parecia não ser de ninguém e vir realmente do céu ,pela


aparente inexistência da autora.


Subi a escada normalmente, mas com enorme curiosidade de desvendar o

aparente mistério - ao galgar o patamar me defrontei com Dona Maria


Rodrigues, e ouvi sua singela e sincera gratidão, partida do mais fundo do

coração :-Professor, tudo que possuo hoje devo ao Senhor,que me ensinou a

ler! " Nesta ocasiaõ estava separada do português e havia refeito sua vida.

Então, ela jamais poderia pensar que, verdadeiramente agradecido estava

eu, porque evoquei a personalidade original e maravilhosa de minha avó

Balbina, natureza varonil de mulher romana das antigas, analfabeta, mas

sedenta de sabedoria.

Por isso me sinto ditoso de saber minhas filhas

professoras de valor".

sexta-feira, 2 de abril de 2010

O dia em que o avô perdeu para os netos no jogo...

O dia em que o avô perdeu para os netos no jogo...





Brasílio sempre ganhava dos netos Guilherme e Fernando nas partidas de

xadrez.
Até certo dia,em que os dois espertinhos resolveram pregar-lhe uma peça...

Estava disputando com Fernando e, a cada jogada, lá ia Guilherme olhar

num programa próprio qual deveria ser o próximo lance, de modo a levar o

irmão à vitória. Voltava à sala e atrás do avô fazia gestos para Fer,

induzindo-o à jogada mais conveniente segundo a sugestão da "máquina

pensante". Assim foi passando o tempo, com idas e vindas do Guilherme.

Brasilio sempre foi um ótimo jogador , com sua inteligência privilegiada;

não estava acostumado a perder( ainda mais para um rapazote mal iniciado

no conhecimento das regras desse jogo), mas quando isso acontecia, emitia

um ô, ô, Ô meio espalhafatoso, num misto de admiração pelo oponente e

um pouco de aborrecimento disfarçado. E não é que neste dia tal aconteceu?

Os dois matreiros nunca lhe contaram seu estratagema, o qual foi de uma

malvadeza hilária... Perdeu para a máquina, pobre de meu pai...

(Segundo Fernando, eles contaram, sim, e tudo terminou numa boa gargalhada dos três...)


... E  quando  o avô partiu,  Guilherme  colocou uma pedra do tabuleiro  de xadrez  junto a ele...

Foi uma bela homenagem deste neto querido...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Tirei umas férias das saudades...mas hoje recomeço, com pouca coisa, porém.


Papai faria aniversário em 22 de janeiro. Elsi escutou numa rádio sobre as

características das pessoas nascidas nessa data ,e me passou: "Acha mais

importante pensar do que comer. E o seu grande sonho é o de melhorar o mundo".

É isso ... nada mais exato em relação ao nosso sonhador.

Um adendo- pode parecer que só faço elogios à minha família e falo somente de

suas qualidades. Mas, "nem tudo foram flores", houve muitos espinhos também. E como!

É que " prefiro falar das flores", faz bem ao meu coração.

Volto noutro dia.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Trechos de cartas enviadas pela Gringa ao Polaco, no ano de 1949.Dá para perceber seu entusiasmo com o "ofício de ensinar" e com os trabalhos na casa recém-comprada, e também plantações de flores e verduras, árvores.

...Perguntei:Quantos olhos você tem? Quantas bocas, quantas pernas? E depois mandei contar quantas eram as crianças de uma fila; elas contavam com animação. Eu perguntava: quantos braços há então aí, quantas bocas? Foi uma aula e tanto!

...Sábado à noite, deitei e fiquei pensando nas crianças do Grupo e num meio de ensinar; esse negócio de decorar não é de meu agrado. E, de pensar, me veio uma idéia: devia ser tudo cantado. Lembrei que as músicas populares as crianças aprendem poucas vezes depois de ouvirem;bem que podia dar a taboada cantada com música especial; fiquei pensando nisso, e com grande tristeza de não ter tido mais estudo quando criança. Sou tão tímida, e isso me atrasa muito! Mas ontem, na fita "Tudo isso e o céu também", a professora ensinava às crianças a história da pátria com música, e cantada!

Só mais esta semana de férias, estou com saudades do Grupo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Agora quero fazer uma homenagem à minha irmã e "cúmplice", àquela que compartilha bons e nem tão bons momentos comigo, desde nossa infância... ELSI


Em primeiro lugar, ela é a pessoa mais sensível que conheço, como nosso pai tbém o era. Coraçao de manteiga, o dessa "Polaca, que se emociona facilmente com o sofrimento alheio.Mas igualmente decidida, dinâmica, enfrenta seus medos, sua timidez, e vai em frente... como quando foi a oradora de suas turmas, na colação do Ginásio e do curso de Normalista, e sempre que a convocam para falar (ao contrário de suas irmãs inibidas). Organizadíssima e caprichosa, inteligente, sempre se destacou nos estudos e na profissão.Seus ex-alunos a amavam muito, precisa dizer mais? Ela me encoraja(eu sou uma medrosa), faz uns pratos gostosos (para sua irmã gulosa); às vezes explode, mas fica boazinha logo, logo. Arrepende-se tão depressa quanto ... Ama viajar, conhecer lugares e pessoas, ler, resolver palavras cruzadas, jogar paciência, enfrentar desafios, vencer a timidez. Realmente amiga de seus amigos, com toda a pureza de coração. Ainda: não esquece os aniversários de todos, literalmente, "todos"... E gosta muito de falar ao telefone, ah, ah, ah.
Essa é a minha irmã querida, protetora companheira de jornada.

Carta de Mãe

Trecho de uma carta de mãe para pai, do ano de 1949. Ela enfrentava inúmeros problemas, entre os quais os financeiros e os de saúde, mas estes não lhe tiravam o ânimo e a alegria de viver.

... Encontrei Jacira e Jeny, aí eu disse: As pombas já estão voltando ao pombal... Jacira já veio me abraçando, e dizendo: Você está contente! Respondi: Demais, com um dia maravilhoso desses! E depois, estou voltando à minha segunda casa... Com dias assim, tão lindos, tenho vontade de dançar, cantar, pular na rua. Ela, então, me falou: Elza, você é feliz, isso é felicidade. E disse que não gosta de dias lindos, que fica triste; só gosta de dias cinzentos.

Pouca coisa me deixa feliz; quando vou ao jardim e vejo uma flor brotando, me enche o coração. Hoje, Lavínia ia saindo, chamei só para ver uma hortência pequenina, bem azul, na pontinha de um galho.

Será que isso é velhice?
Sabe, tinha esquecido de amassar o pão. Por isso vou parar. Imagine, misturar pão com poesia... Beijos e saudades da sua Gringa.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Depois de ler e ver os erros(agora estou com preguiça de refazer, corrigir}, deu para perceber, junto com a sua grande afetividade , algumas coisas interessantes: como a designação de terno estofado para o nosso atual sofá; a linguagem "castiça" "em o", substituindo "no";seu patriotismo , dir-se-ia até, bem romântico, autêntico e exaltado. Lindo isso, não?

trechos de cartas

Fiquei Tanto tempo sem vir aqui, que até perdi o fio da meada.É que são tantas coisas para contar, ou dizer... Tenho organizado cartas e papéis, mas acabo me perdendo; e chorado muito. Enfim, essa memória sentimental,à qual sou tão apegada, precisa continuar.
Aleatoriamente, peguei uma carta do "Polaco", dirigida à "Polaca" (como chamavam à Elsi, lá em casa). Vamos aos trechos mais significativos:

Mandaguari, 7 de setembro de 1956.

Querida filha

Bom dia! nobre e delicada polaca de meu coração! Devem ser umas dez horas.
Acordei-me com os sons da banda de música local, como se fôra o despertar de uma nação, confiante em sua nova geração.Tocaram o hino nacional e verifiquei a minha consonância de coração com sua letra e música; a imagem de você, nítida, permaneceu comigo, antevendo-lhe renome como educadora das lides pedagógicas do porvir.E marchava ufana, mas serena,com o puro coração cheio de civismo esclarecido e fraterno, estado de ânimo que lhe auguro vida em fora, a fim de poder se tornar pioneira da escola do futuro.Menos precisas eram as imagens de suas irmãs, em o meu pensamento, sempre igual o sentimento paternal, porque só você tem se dedicado ao problema de educação, só você de perto sente o "Pensai na educação", do Dr. Miguel Couto.Ao levantar-me hoje, projetei tirar fotografias do desfile para lhe enviar, mas a máquina trabalhou de amiga da onça e o botão não quis funcionar.

Efetivamente, agora v. tem acúmulo de tarefas, quebra até a lei dos três oito; já ouviu falar em a lei citada?Oito horas para trabalhar, oito p. se divertir e oito p. dormir....


Fiz uma modificação radical em nossa casa daqui. Principalmente em o escritório; primeiro, logo depois da porta, havia colocado um terno estufado, ora em outro lado da sala, entre duas janelas, uma da frente e outra e outra do lado da casa vizinha. Só conservei em o mesmo lugar o arquivo de pastas e documentos, no canto da sala, entre as duas janelas citadas. O armário maior de livros, antes encostado à parede em frente à porta de entrada, passei p. onde estava o menor, da biblioteca Osvaldo Cruz; mas separei-o bem da parede, fazendo assim pequeno corredor,em cuja parede, dividindo com meu quarto de dormir, um moço carpinteiro fez quatro suportes-prateleiras, para colocar os carimbos com as diversas frases sobre o livro.Junto com o terno estufado ainda há mesinha para livros.Um pouco para o lado direito afixei dois quadros de Durval Serra, sendo um da Igreja Colonial de Paranaguá. O outro ,de óleo, com a tinta feita com a própria terra do norte do Paraná, um casamento de caboclo, com a noiva e os convidados em um caminhão, o véu branco esvoaçando ao vento; o noivo com roupa toda azulão e enorme chapéu à cabeça, meio abstrato como se estivesse sonhando, enquanto que sua noiva já está com olhar de dona de casa. Em a outra extremidade da parede, a bicicleta, boa filha e madastra...

Meus parabéns ,e fico muito orgulhoso de você.
Como prometi, irei começar o discurso, depois v. refunde-o, ou, se entender, de lê-lo tal como irei mandar, com antecedência de um mês...

Estou, como sempre, muito, muito orgulhoso pelas suas vitórias e notas.Como foi de prova de Psicologia?...

Logo irão o feijão e o café...Estou com sono, vou ler e dormir. Continuarei amanhã,
quando tbém escreverei p. a "Gringa".


Bom dia! São 11 e 30 minutos.Há 22 anos, sentia o coração pleno de alegria e entusiasmo e orgulho. Um desejo imenso de bailar com todos, cantar um marcha de glória, beijar, em pensamento e às faces de sua mãe, toda a humanidade.Foi o dia mais solene de minha vida, porque o do meu único amor como homem e como animal pensante e sensitivo.O dia vai ser de nobres recordações de minha vida. Há momentos fiz dedicatória a Dona Elza, pelo dia de hoje,do livro de viagens, Paris, melhor, itinerário sobre a França.A dedicatória possibilitou nova frase sobre o livro:" O LIVRO É VIAGEM PARADA, DENTRO DO ACONCHEGO E CARINHO DO LAR, PELOS CAMINHOS DO MUNDO ."...

Acabam de tocar em o rádio, "Quando os lírios florescem".Não sei se foi o dia, a semana da primavera, recordação viva das únicas primaveras de minha vida, o certo é que o rádio mais afinou a imensa saudade de formoso sonho. Beijos, abraços e saudades, do pai e amigo de sempre.

Brasílio.

terça-feira, 9 de junho de 2009

" SETE QUEDAS, TESOURO ESQUECIDO"



"CONHEÇA PRIMEIRO O QUE É SEU,PARA DEPOIS CONHECER O QUE É DOS OUTROS"



Vamos! Venha comigo e enquanto vou contando o que vi e falando do que é nosso, feche os olhos e vá
criando em sua imaginação os cenários para esta viagem a lugar cheio de calma e silêncio, pleno de verde  - que, de repente se transforma, se agita, cortando a quietude e solidão com brados e gritos, em torrentes de espuma e sinfonia  de cores.

-No tapete mágico destas palavras, você já foi transportado, você já se encontra em frente às quedas do rio Paraná, em Guaíra, a cidade calma, pequena no tamanho mas imensa no quinhão de belezas que a natureza lhe deu.

-  Você vai  achar-se olhando, extasiado, a igreja singela, coberta de hera, que tem como herança dos tempos idos as mesmas telhas que cobriram outrora a igreja jesuíta de "Vila Real del Guairá", de terra pisada, de terra varrida pelos nossos bandeirantes.

- Hoje o telhado da igreja foi  reformado e perdeu muito do encanto do passado.
Nas ruas tão simples, de poeira vermelha, a saudação já foi feita.

-No doce farfalhar das folhas, no canto suave dos pássaros das árvores que as margeiam, você já deve ter escutado, sentido, em seu coração: -Seja bem-vindo! Conheça o que é seu!

-Vejamos o porto ,conservando ainda em sua pobreza o jeito dos que muita riqueza e muita miséria humana já viram passar.Guarda ainda para si a lembrança dos enormes carregamentos de mate, saídos da mata virgem, transportados em fardos tão grandes, tão pesados, arriados às costas do humilde cabloco que fazia imenso percurso e, às vezes, jazia para sempre debaixo da erva - tão linda, mas tão assassina.

-Olhe as casas, tão iguais, conservando ainda o que nas grandes cidades desde há muito já não mais se vê.

-Como antigamente na igreja, repare o telhado das casas, tão antigas quanto o templo, em formato de escamas, com telhas de madeira.

-Aqueles, acolá, são de estuque; mais adiante, querendo impor modernismo, aparece prédio de alvenaria em seu início, mas com ar altaneiro, espalhando superioridade.

-Pobre tolo! ele nasce hoje, não viu o que vimos, segredam as casinhas antigas.

De todos os pontos avista-se o rio Paraná- tão largo, tão escuro, correndo calmo, fingindo sossego, mas logo ali adiante...

-Os tipos estranhos que andam nas ruas, morenos, falando em grande algarávia, mistura de sons, espalham no ar a língua tupi-guarani, trazendo nos olhos o seu Paraguai. Nosso país é deles e o deles é o nosso.Um rio nos separa, ou melhor, num abraço nos une, nos liga, fazendo-nos irmãos.

 - A dominar a cidade, em toda a sua grandeza, com seus caminhos marcados por pedras pintadas de branco, suas construções amplas e modernas, e- em seu matro tremula o auriverde pendão de nossa terra,-está a Quinta Companhia de Fronteiras- onde um punhado de dignos oficiais de todas as partes do Brasil dedica-se, com amor e patriotismo, ao ensino das artes militares a duas centenas de jovens prestando o seu tempo de serviço militar. 
Podemos tomar este atalho ali adiante, e no seu início descortinamos a Vila Militar com suas casas novas e modernas, e o Clube do Centro Social da Guarnição de Guaíra.
-Bastante amplo, com aspecto exterior modesto, é muito agradável em seu interior, onde existe ótimo salão de leitura e baile, estantes para livros, revistas e coleção de ofídios da região.
 Sobressai, em uma  de suas paredes, bonita coleção de flâmulas militares a alegrar o ambiente, bem como moderno bar e cinema.

- Nesse clube tão simpático confraternizam em todas as festas, reuniões e sessões cinematográficas, não só os militares como todos os habitantes da cidade, que a ele têm livre acesso.

-Sei, nisso teríamos desilusões, o tempo tudo transforma, e variam os pensamentos das administrações.

-Sigamos adiante, nosso percurso agora, apesar de longo, é pontilhado de emoções, de êxtases!...

-É a natureza pura e simples, abrindo-nos os braços.

-Por todo o caminho há revoadas de borboletas em sinfonia policrômica, de todos os tipos.

Sobem e descem, voando, brincando, dançando "ballet".

-Imitam a cortina de cores de grande teatro, prestes a dar um magnífico espetáculo.

-Há um ruído tão grande pairando no ar, parece trovoada!...


-É o grito do indomável, é o brado de revolta do rio-menino, tão manso, tão calmo, que enjoa daquilo e pula a janela para fazer travessuras.

-Seu coração dá um salto, sua alma estremeceu e seus olhos se extasiaram.

-É  assim e sempre, com todos.

-É  uma emoção enorme  ver tanta beleza!

-Aquela cascata imensa, aquele mundo de espuma deslumbra!

-Aqueles saltos mais calmos além, as flores debruçando-se para mirarem- se às águas tranquilas, um pouco mais abaixo, são contraste enorme.
-O rio, que além é tão escuro, aqui se transforma e embranquece, e até luminoso fica!

-O "Rotary", em gesto digno  de louvor e imitação, fez coleta entre seus associados e, com auxílio do Município e da Quinta Companhia de Fronteiras,construiu nova ponte pênsil para possibilitar a aproximação ao maior dos saltos; encoberto pela montanha de pedras, do lado  esquerdo  do rio, eis o Salto Quatorze, antes só visto por excursionistas audazes e pelo ar, em avião...

-Suas barrancas graníticas quedam tais como muralhas de cidades lendárias, enfrentando a fúria ciclópica das águas.Parecem zombar das formigas humanas a passarem, receosas, pelas grandes pontes pênseis.

-A cheia costuma  cobrir os 140 metros de altura dos degraus sucessivos da queda d'água e em uma delas essa ponte quase foi levada rio abaixo. Agora , torcida e bamboleante, aguarda mais severo carinho com todo esse tesouro esquecido e desprezado pelos governos-é o eterno desleixo das administrações incompetentes, que revolta e contrista.

-Por entre a mata luxuriante divisa-se, sumindo e tornando a aparecer, semelhantes a cabeleiras encanecidas, mais para o alto e para baixo, vários dos seus 37 Saltos.

-O arco-íris permanente a valsar sobre a água que cai, que dança, é uma dádiva do sol, eterno enamorado das Sete Quedas.

-E, para quem, como você, vai de perto conhecê-las, ver sua beleza, ouvir o coração do Brasil a palpitar embaixo delas, ele também oferece um presente.


-E um arco íris miniatura que vai  com você, que enlaça suas pernas e que o acompanha em toda a
visita- "fazendo com que um amor imenso, por esta pátria formosa, irrompa de seu coração para seus olhos, em uma quase cascata de lágrimas..."



 (Esta bela página foi escrita por Lavínia Costa Straube, quando morando com Ernani em Guaíra, em 1957.)



E dizer que tamanha maravilha da natureza hoje está encoberta...